Da imunidade do organismo ao fortalecimento dos ossos e redução dos riscos das doenças respiratórias sobretudo em idosos, ela pode ser fundamental em diversas fases da vida – inclusive na pandemia.
A vitamina D é essencial em muitos processos vitais, incluindo a construção e manutenção de ossos fortes. Considerada um pré-hormônio, ela é responsável por regular a absorção de cálcio e fósforo, manter o funcionamento do cérebro, além de fortificar ossos, dentes e músculos – inclusive o coração. Importante na prevenção da osteoporose, a vitamina D também pode estar relacionada à expectativa de vida. Para as mulheres, sua importância é ainda maior. “Na adolescência, o seu equilíbrio no organismo contribui para a prevenção da Síndrome dos Ovários Policísticos, endometriose e infertilidade. Já na gestação, é responsável por prevenir diabetes gestacional, baixo peso fetal e complicações de parto. E, no fim da vida fértil da mulher, na menopausa, tem papel fundamental na manutenção dos níveis normais de cálcio e fósforo no sangue”, explica a nutróloga Esthela Oliveira, médica do esporte, pós-graduada em nutrologia e medicina integrativa e diretora da Clínica Conde.
Ela reforça que o sol tem papel fundamental para a absorção de vitamina D: de 15 a 20 minutos diários de exposição ao sol já são suficientes. De acordo com a especialista, alguns alimentos também são fontes ricas em vitamina D. “A maior concentração está em peixes de água salgada, como salmão, arenque e sardinha. Ovos, cogumelos, leite e manteiga contêm pequenas quantidades”. Ela explica que adultos devem ingerir cinco microgramas por dia, enquanto grávidas (veja box) e mulheres amamentando devem aumentar o consumo diário para 10 microgramas. Mas antes de recorrer à suplementação, é preciso ficar atento aos sinais de deficiência. “Caso sinta cansaço em excesso, infecções que não curam, dores ósseas e queda de cabelo constante, deve-se procurar um especialista e, através de exames de sangue, identificar se os níveis estão abaixo do ideal “, recomenda. Se estiverem, a Vitamina D será um suplemento vital.
A Covid-19 deixou ainda mais claro – se é que isso fosse necessário – a natureza dramática dos distúrbios respiratórios. Coronavírus à parte, a atenção aos níveis de vitamina D adequados no organismo também é aliada da prevenção dessas doenças. A suplementação de vitamina D pode ser especialmente importante para idosos, que, sobretudo, apresentam maior risco de contágio pelo novo vírus – e de deficiência desse hormônio. A endocrinologista Marise Lazaretti Castro, professora adjunta de endocrinologia da UNIFESP, explica que os idosos fazem parte dos grupos de risco de hipovitaminose D, mundialmente. “Metade dos idosos têm deficiência grave e quase 90% estão abaixo das concentrações desejáveis – todos deveriam fazer suplementação com vitamina D. Os benefícios dessa reposição sobre a saúde musculoesquelética já são bastante conhecidos, e esse benefício adicional sobre a redução no risco de infecções agudas respiratórias pode auxiliar, inclusive, durante a pandemia”, finaliza a especialista.
Um texto da revista Lancet, recentemente publicado, lembra que a vitamina D tem um papel bem caracterizado no equilíbrio de cálcio e fósforo, promovendo a renovação óssea. Mas o baixo nível desse pré-hormônio também está associado a doenças não transmissíveis e a doenças infecciosas, principalmente as do trato respiratório. A revista científica cita uma metanálise de dados de 2017 que abrange 11,3 mil pacientes em 25 ensaios clínicos randomizados. Eles mostraram que a suplementação de vitamina D protegia contra infecção do trato respiratório aguda, principalmente em pacientes com níveis de vitamina D muito baixos. Segundo o artigo, isso se explicaria uma vez que o SARS-CoV-2, o novo coronavírus, surgiu e começou a se espalhar no Hemisfério Norte no final de 2019, inverno local, quando os níveis de vitamina D estão no seu ponto mais baixo. A autora do artigo, Dra. Fiona Mitchell, diz que o papel da vitamina D na resposta à infecção por Covid-19 pode ser duplo: apoiar a produção de peptídeos antimicrobianos no epitélio (tecido) das vias respiratórias, ou seja, criando uma barreira de proteção que torna os sintomas de Covid-19 menos prováveis; e, num segundo momento, colaborando na redução da resposta inflamatória à infecção. “Pela facilidade, segurança e baixo custo, a suplementação com vitamina D é uma medida que deve ser recomendada, especialmente para os idosos”, reforça a professora Marise.
Especialistas sustentam que, durante a gestação, o papel da vitamina D é fundamental na absorção de nutrientes e na modulação da resposta imunológica da mãe – ou seja, se os níveis dessa vitamina estiverem baixos, o próprio organismo pode reconhecer a gravidez como uma “ameaça”. Estudos observacionais recentes apontam que entre os benefícios da vitamina D durante a gravidez estão a redução de partos prematuros e de diabetes gestacional. Em gestantes de alto risco, pode prevenir a chamada pré-eclâmpsia, que acontece quando a pressão arterial se eleva durante a gestação.
Segundo o ginecologista José Mendes Aldrighi, professor titular da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, a investigação mais recente do Royal College of Psychiatrists, que analisou mais de quatro mil gestações, mostrou que o baixo nível de vitamina D entre a 18ª e a 25ª semanas de gravidez foi associada ao diagnóstico de autismo em crianças entre seis e nove anos.
A vitamina D ainda é essencial durante a fase de amamentação. No entanto, nem sempre a quantidade presente no leite materno supre a necessidade do bebê. “Na lactação, é alta a prevalência de hipovitaminose D, ou seja, níveis baixos da vitamina, tanto em mães como nos recém-nascidos. Cerca de 75% das lactantes apresentam concentrações sanguíneas de vitamina D abaixo de 20ng/ml, o que é considerado um baixo nível”, explica o médico.
Exposição solar: durante a gravidez, um dos problemas mais comuns é o surgimento ou agravamento do melasma, manchas escuras no rosto, braços, pescoço e colo. Por isso, muitas grávidas têm receio de se expor ao sol, principalmente sem o uso de proteção solar. Como a vitamina D é garantida, sobretudo, a partir da exposição ao sol, a recomendação é que a futura mamãe tome sol por 15 minutos, todos os dias, no período da manhã, antes das 10 horas.
Suplementação: a exposição ao sol de maneira correta e alimentação saudável nem sempre serão suficientes para atingir o valor referência (30ng/ml) de vitamina D para gestante. E a suplementação se torna necessária. “Na gestação e, durante a lactação, as doses recomendadas são, na prevenção, de 400 a 2.000 UI/dia, enquanto a dose de tratamento é de 4.000 a6.000 UI/dia”, indica o médico.
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