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Osteoporose: Ossos do ofício

Por Celso Arnaldo Araujo

Uma em cada três mulheres acima dos 65 anos. Um em cada cinco homens acima dos 70. As vítimas da osteoporose – redução progressiva da densidade óssea, com aumento do risco de fraturas – estão entre os clientes preferenciais das farmácias, os pacientes da Terceira Idade. Segundo a Abrasso (Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo), cerca de 10 milhões de brasileiros sofrem de osteoporose – mas apenas 20% das pessoas sabem que têm a doença. Mais um motivo para ela ser incluída no escopo da assistência farmacêutica.

Segundo o Dr. Guilherme Laranja, reumatologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, pulsos, coluna vertebral e fêmur costumam ser as partes do corpo mais afetadas pela doença. E os alvos preferenciais são as mulheres. “A deficiência de estrogênio, o hormônio feminino, causa a fragilidade óssea de mulheres no período pós-menopausa. Nesse cenário, a incidência de osteoporose em mulheres é o dobro do que em homens”, diz o especialista. A osteoporose é classificada em primária e secundária. A primeira não tem uma causa definida. Já a secundária ocorre quando outras doenças que comprometem a massa óssea levam ao surgimento da osteoporose – é o caso de alguns tipos de câncer, doenças inflamatórias em geral (lúpus, artrite reumatoide), deficiência de cálcio e vitamina D, assim como tabagismo, consumo exagerado de álcool e tratamentos à base de corticoides.

Diagnóstico e prevenção

A densitometria óssea ainda é o melhor método para o diagnóstico da osteoporose. O exame, que mede a quantidade de cálcio nos ossos, indica o nível de gravidade da doença. No entanto, a adoção de um estilo de vida saudável ajuda a prevenir o desenvolvimento dessa patologia. Alimentação balanceada, rica em verduras e legumes, principalmente as de cor verde escura, farta ingestão de cálcio e de vitamina D, associada ao baixo consumo de açúcar, exposição ao sol em horários mais seguros, além de atividade física regular são algumas das formas de tentar evitar ou retardar quadros de osteoporose. Em relação à atividade física, segundo o Dr. Guilherme, o ideal seria começar a prática desde a infância, pois isso melhora a “reserva” de osso da criança e, consequentemente, a massa óssea na velhice.

Casa segura contra quedas

Quem sofre de osteoporose precisa se preocupar em reduzir os riscos de queda e fraturas. Por isso, o especialista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz alerta para a importância de deixar os ambientes domésticos protegidos. “O ideal é que os idosos vivam em casas com boa iluminação, sem tapetes. Cadeiras, poltronas e sofás devem ter braços, que ajudam na hora de a pessoa se levantar. Os pés dos móveis devem ter protetores antiderrapantes”, resume o Dr. Guilherme Laranja. Além disso, barras de apoio devem ser instaladas dentro do box do chuveiro, próximas da pia do banheiro e ao lado do vaso sanitário. Isso também reduz o risco de queda e dá mais autonomia ao idoso. Nas escadas, o uso de fita antiderrapante na borda dos degraus ajuda a melhorar a aderência e sinaliza o fim de cada degrau.

Ferramenta online ajuda a identificar a osteoporose

Preocupada com o cenário da osteoporose no mundo, a IOF (International Osteoporosis Foundation) criou uma ferramenta online para ajudar a população a identificar a presença de fatores de risco que predispõem ao surgimento da doença — o Relatório de Verificação de Risco de Osteoporose. A iniciativa, lançada com o apoio da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologistas e Obstetras), traz um rápido e dinâmico questionário programado para combinar diferentes marcadores biológicos e de hábitos de vida, com a finalidade de alertar sobre os perigos da doença e necessidade de buscar orientação médica. Segundo a IOF, anualmente, ocorrem mais de 180 mil fraturas de fêmur no Brasil. E cerca de 20% dos idosos que sofrem fratura no quadril morrem no prazo de seis meses. Em geral, o diagnóstico da osteoporose ocorre somente após o aparecimento de fratura de vértebras (coluna), antebraço e quadril, locais de maior incidência.

Os fatores de risco – idade superior a 50 anos, baixo peso, consumo deficiente de cálcio e vitamina D, ingestão excessiva de álcool, tabagismo, sedentarismo, histórico familiar ligado à doença – estão apontados no questionário, disponível em 13 idiomas, inclusive português (http://riskcheck.iofbonehealth.org/).

Se descoberta no início, a osteoporose tem tratamento capaz de reduzir em 90% o risco de fratura das vértebras e em 54% nos outros ossos. Esse diagnóstico precoce é mesmo fundamental: estimativas apontam que o número de fraturas relacionadas à doença deve subir quase 70% até 2030 no Brasil.

O cenário da osteoporose no Brasil

“O Cenário da Osteoporose no Brasil” é um texto elaborado pela Coalizão sobre a Osteoporose no Brasil, formada por especialistas e entidades de classe, que consideram a iniciativa um alerta, a fim de que a longevidade saudável seja um assunto de prioridade para a saúde pública. O médico e diretor da ABQV – Associação Brasileira de Qualidade de Vida, Dr. Alberto Ogata, destaca: “A saúde óssea da nossa população é um assunto de extrema urgência. Ações concretas são fundamentais. Fatores sociais, como segurança doméstica, independência, qualidade de vida e empregabilidade, além da redução dos custos com medicamentos e hospitais, também colaboram diretamente com a boa saúde emocional e física da população idosa”.

O ex-presidente da Comissão Nacional de Osteoporose da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), Dr. Ben Hur Albergaria, resumiu o impacto da osteoporose para a sociedade. “A cada três segundos uma fratura por osteoporose acontece em algum lugar do mundo. Uma a cada três mulheres vai ter uma fratura a partir dos 50 anos de idade. Para cada mil brasileiros com mais de 50 anos, oito irão apresentar fratura por osteoporose. Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, no Brasil as fraturas osteoporóticas causam cerca de 200 mil mortes por ano. Não há orçamento público que consiga cobrir isso se nós não trabalharmos proativamente para reverter essa situação”, conclui o Dr. Ben Hur.

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