A grande inflação dos anos 2021 e 2022 foi causada por três fatores:
i)desestruturação do comércio global durante a pandemia
ii)políticas de estímulos de governos mundo afora e
iii)conflito Rússia Ucrânia. Esses fatores somados causaram uma disparada no preço do petróleo de u$20 o barril para mais de 120u$. Houve também forte alta em preços de todos os tipos de commodities e alimentos. Esses movimentos estão se exaurindo e não devem provocar mais inflação em 2023. Desde que a pandemia começou no início de 2020 o comércio global passou a sofrer interrupções como há muito não se via. Países interromperam produção em diversos mercados com medidas de lockdown, os custos de transporte dispararam. Para citar um exemplo o custo para se enviar um container de Santos a Shanghai chegou a ficar 5x mais caro em 2022 do que em 2019. Durante a pandemia faltavam navios e tripulação. Hoje esses preços se normalizaram. Chips, semicondutores, carros, televisões, eletrodomésticos, tudo ficou mais caro com grande aumento de demanda e queda de oferta. Trancados em casa por lockdowns as pessoas passaram a demandar mais bens e menos serviços.
As políticas de super estímulos dos governos também tiveram um papel nisso. Juros foram zerados rapidamente em 2020 e vários programas de gasto público ajudaram a tirar as economias do buraco. O governo Biden distribuiu cheques de mais de u$2.000 para as famílias americanas mais necessitadas. Essas políticas funcionaram. O desemprego nos EUA caiu de 15%, para 3,5%; mínima de 50 anos. No Brasil a Selic a 2% provocou um mini boom imobiliário que causou alta de preços de imóveis e insumos da construção civil. Tudo isso passou. No momento os governos no Brasil e no mundo usam políticas de contração de demanda, especialmente com alta de juros. Apesar de ainda manter algum estímulo de gasto público o choque monetário brasileiro e americano foi muito forte. Juros a 13,75% aqui e 5% por lá terão forte efeito contracionista para 2023. As políticas de estímulo que contribuíram para a inflação de 2021 viraram políticas de restrição que farão a inflação cair em 2023. Algo parecido ocorre com o conflito Rússia Ucrânia. No início dos confrontos os preços do petróleo, gás e grãos dispararam. No mercado de trigo mundial esses dois países têm mais de 30% de participação. O conflito não está hoje resolvido, mas o efeito nos preços desses produtos passou em grande medida. O preço do petróleo Brent voltou abaixo dos 80, preços de gás natural e grãos também tiveram quedas importantes.
Em 2023 a inflação será bem menor no Brasil e no mundo. Os juros vão parar de subir nos EUA e podem começar a cair no Brasil no segundo semestre. O crescimento econômico será, contudo, menor e o desemprego deve voltar a subir tanto aqui quanto nos EUA devido aos juros mais elevados usados para conter a inflação. A inflação brasileira de 2021 e 2022 foi gerado por um conjunto de fatores que agora se dissipam. Além do boom de preços de commodities em dólares e de novos gastos públicos aprovados nos últimos anos do governo Bolsonaro, a forte desvalorização cambial também teve papel importante. Nossa taxa de câmbio saiu de R$4 ainda no início da pandemia para mais de R$5,50 durante o ano de 2022. Isso tornou os preços dos bens importados e exportados mais caros em reais, contribuindo para a inflação no Brasil. Hoje a moeda brasileira está na posição mais desvalorizada dos últimos 20 anos. É difícil dizer quando voltaremos para a média histórica com uma moeda brasileira mais valorizada. Isso dependerá da nova equipe econômica a ser anunciada e da nova regra fiscal que deverá ser divulgada nos próximos meses. Uma gestão mais fiscalista pode contribuir para a valorização da moeda brasileira e futura queda da inflação. No momento, os gastos da PEC de transição e incertezas sobre a nova regra fiscal pressionam o risco país e a taxa de câmbio para uma posição mais desvalorizada.
Ideias chave
1) A grande inflação dos anos 2021 e 2022 foi acusada por três fatores: i)desestruturação do comércio global durante a pandemia, ii)políticas de estímulos de governos mundo afora e iii)conflito Rússia Ucrânia.
2) Esses fatores somados causaram uma disparada no preço do petróleo de u$20 o barril para mais de 120u$. Houve também forte alta em preços de todos os tipos de commodities e alimentos.
3) Esses movimentos estão se exaurindo e não devem provocar mais inflação em 2023.
4) No momento, os gastos da PEC de transição e incertezas sobre a nova regra fiscal pressionam o risco país e a taxa de câmbio para uma posição mais desvalorizada. Isso pode pressionar a inflação no Brasil em 2023.
Fonte: Paulo Gala
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