Você sabia que cerca de 600 milhões de pessoas no mundo precisam ou precisariam lidar diariamente com o excesso de açúcar no sangue?
Cerca de 20 milhões de brasileiros convivem com esse distúrbio. E as farmácias, particularmente no Brasil, onde elas integram o sistema de saúde em 95 por cento dos municípios, têm um papel fundamental no auxílio do controle da doença – especialmente a do chamado Tipo 2, cerca de 90% dos casos. Nessa forma de diabetes, o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz ou não produz insulina suficiente para controlar a taxa de glicemia. Esse tipo de diabetes se manifesta mais frequentemente em adultos, mas, com o aumento de casos de obesidade em crianças e adolescentes no Brasil, também têm sido registrados casos de diabetes Tipo 2 entre pessoas mais jovens – pois a obesidade é um dos fatores de risco do Tipo 2 da doença. De qualquer forma, nossas farmácias, diante do aumento mundial da incidência do Diabetes Tipo 2, são agentes preponderantes da rotina diária pela saúde do diabético. O Dia Mundial nos ajuda a relembrar como enfrentar esse amargo inimigo – como você verá a seguir. O diabetes, em seus dois tipos, não tem cura – mas é controlável, com medidas e hábitos saudáveis. Sem controle, torna-se potencialmente fatal, dando origem a uma alta incidência de moléstias cardiovasculares.
Predisposição genética
Antes, uma palavra sobre o diabetes Tipo 1, cerca de 10% do total de casos: ele ocorre em pessoas com tendência genética, nas quais o sistema imunológico ataca equivocadamente as células do pâncreas que produzem insulina. Com isso, pouca ou nenhuma insulina é liberada para o corpo e a glicose acumula no sangue. O Tipo 1 aparece geralmente na infância ou adolescência, mas pode ser diagnosticado em adultos também. Essa variedade é sempre tratada com injeções diárias de insulina, planejamento alimentar e atividades físicas. Embora seja um distúrbio bem menos frequente que o diabetes Tipo 2, as farmácias também podem atuar auxiliando seu controle, oferecendo os produtos coadjuvantes da administração diária da indispensável insulina, inclusive a própria.
Por que 14 de novembro é Dia Mundial do Diabetes?
Porque nesse dia nasceu Sir Frederick Banting, médico canadense que, em 1921, ao lado do jovem assistente Charles Best, desenvolveu a insulina de laboratório – o antídoto contra a carência dessa substância no organismo. Estamos falando especificamente do Diabetes Tipo 1, o mais grave, totalmente dependente da substância desenvolvida por Banting e Best há 103 anos.
Como as farmácias podem ser agentes vitais para o controle do diabetes?
São hoje inúmeras as ofertas de produtos para a gestão do diabetes no varejo farmacêutico, tanto para o Tipo 1, com destaque para a insulina e seus instrumentos de aplicação, como para o 2 – com um acervo numeroso de ferramentas coadjuvantes.
Exemplos:
*Monitores e tiras para aferição doméstica da glicemia
*Agulhas e seringas para aplicação de insulina
*Bolsas térmicas para transporte de insulina
*Lancetas e lancetadores para coleta da gota de sangue para o teste de glicemia
*Alimentos diet
*Produtos contra a hipoglicemia – ou seja, redução anormal dos níveis de glicose no sangue pelo uso excessivo de antiglicêmicos.
Como observa Valdomiro Rodrigues, consultor da Febrafar, Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias, o diabetes costuma ser uma das principais motivações que levam um cliente à farmácia nos dias de hoje, pelos constantes e numerosos cuidados que a doença exige e pelonúmero de pacientes com a doença. Graças a profissionais de farmácia bem preparados, a doença pode ser administrada com disciplina – uma prática farmacêutica não apenas sanitária como comercial. Valdomiro destaca também que, a partir da RDC 786, novos testes relacionados ao controle do diabetes foram liberados para as farmácias. O principal deles talvez seja o da chamada Hemoglobina Glicada – hoje um dos exames laboratoriais mais solicitados na investigação do diabetes, pela possibilidade de ser feito sem que o paciente esteja em jejum. Esse exame faz a medição do nível médio de glicose durante dois ou três meses com uma única aferição e o resultado do teste sai em minutos, na farmácia.
As farmácias podem oferecer um apoio decisivo ao controle clínico do diabetes. Se sua farmácia aderir a esse serviço tão importante e precisa de apoio regulatório para se adequar para os serviços farmacêuticos, consulte a Abcfarma. Os associados podem se dirigir ao Portal da Abcfarma e conferir alguns documentos necessários para credenciar a farmácia para a realização de testes glicêmicos, além da infraestrutura sanitária exigida. O farmacêutico tem papel essencial nessa prestação de serviço. E sua especialização no campo do diabetes pode ser reforçada em cursos de atualização.
A assistência farmacêutica no campo do diabetes se estende também à orientação sobre hábitos de vida. Sedentarismo, dieta inadequada e obesidade são fatores que podem desencadear o descontrole da glicose. Que tal o farmacêutico se preparar para abordar o cliente habitual de produtos especializados a fim de oferecer essa orientação?
Necessário destacar: testes rápidos feitos em farmácia favorecem a triagem clínica. Não decretam diagnóstico nem antecedem a prescrição de medicamentos pelo farmacêutico – são etapas restritas aos médicos. O protagonista do tratamento do diabetes, sobretudo os do Tipo 1, dependente de insulina, é o médico. A boa orientação e o estímulo à adesão ao tratamento são papéis coadjuvantes da farmácia – mas, na prática, fundamentais, especialmente para os portadores de Diabetes Tipo 2. E, de modo geral, farmácia e controle do diabetes têm tudo a ver, pois elas estão definitivamente inseridas no sistema de saúde do país.
As prateleiras das farmácias têm hoje medicamentos para ajudar o diabético tipo 2 a não deixar os níveis de glicemia ultrapassar os parâmetros normais. Em exemplo é o Cloridrato de Metformina, antidiabético da família das biguanidas com efeitos antihiperglicêmicos e prevenção de Diabetes Tipo 2 em pacientes com sobrepeso, pré-diabetes e pelo menos um fator de risco adicional (como hipertensão arterial, idade acima de 40 anos, dislipidemia e histórico familiar de diabetes).
Principais dúvidas sobre o diabetes
No mês em que se celebra o Dia Mundial para conscientizar as pessoas sobre o diabetes, a endocrinologista Carla Tamanini Ferrari formulou uma lista com as principais perguntas dirigidas a ela pelos pacientes. O objetivo é ilustrar as pessoas sobre uma doença que cresceu mais de 60% na população brasileira nos últimos 10 anos. E ajudar as farmácias a esclarecer seus clientes.
Por que o tipo 2 tem avançado tanto ultimamente?
O avanço tem a ver com a atual epidemia de obesidade, maus hábitos alimentares e sedentarismo.
Comer muito açúcar gera diabetes?
Qualquer alimento consumido em excesso e que leve ao aumento do peso e aumento da resistência insulínica pode causar diabetes.
Diabético não pode ingerir bebida alcóolica e nem comer açúcar?
Não há proibição completa. O que se orienta é equilíbrio e evitar quantidades exageradas.
Diabetes tem sintomas?
Depende da fase da doença e dos níveis de glicemia. Em geral, pacientes com hiperglicemia muito elevada podem apresentar glicosúria – urina com odor adocicado. Há até relatos de formigas no sanitário. Outros sinais de diabetes: poliúria, ou mais de três litros de urina por dia, e polidipsia, ou sede intensa – como mecanismo protetor contra a desidratação. A hiperglicemia também aumenta o risco de vários tipos de infecções – com destaque para vulvovaginites e infecções urinárias. Os pacientes insulinopênicos, ou seja, com redução dos níveis circulantes de insulina, como diabéticos tipo 1 ou diabéticos tipo 2 em estágio avançado, também podem apresentar polifagia (fome excessiva) e perda progressiva de peso.
Diabetes tem cura?
Até o momento, – só controle. Mas em 2017 o Conselho Federal de Medicina reconheceu a cirurgia metabólica como opção terapêutica para pacientes portadores de Diabetes Tipo 2 com índice de massa corpórea alta, desde que a enfermidade não tenha sido controlada com tratamento clínico. Em alguns pacientes submetidos ao procedimento cirúrgico, foram relatados casos de remissão do diabetes – que ainda não podemos chamar de cura.
O diabetes pode ocorrer em qualquer faixa etária?
Desde recém-nascidos a idosos, a depender da causa. Mas o mais frequente é o diagnóstico após os 40-50 anos associado ao ganho de peso, sedentarismo e uso abusivo de bebidas alcoólicas, entre outros hábitos nocivos à saúde.
Por Celso Arnaldo Araujo – Jornalista