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Remédios e vacinas: qual o melhor horário para tomar?

Segundo nosso “relógio biológico”, o melhor momento para um medicamento anti-hipertensivo é antes de dormir, não de manhã

Sim, nosso relógio biológico dita o ritmo do organismo — e não é à toa que devemos ficar atentos a ele. Há cada vez mais evidências científicas de que ele pode indicar os melhores horários do dia para cuidar da saúde — desde tomar certos medicamentos até vacinas.

“Somos pessoas muito diferentes ao meio-dia em comparação com meia-noite”, diz Russell Foster, professor de neurociência circadiana da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Isso se deve justamente a esse tal de “relógio biológico”, também conhecido como ritmo circadiano, que regula as atividades diárias do organismo em cada período de 24 horas.

Ele mantém nosso corpo funcionando dentro de um cronograma, ditando o ritmo de praticamente todas as oscilações que acontecem no organismo.

Ou seja, nosso corpo é programado para fazer coisas distintas a cada momento do dia, desde liberar certos hormônios a aumentar ou diminuir a temperatura corporal. E, de acordo com o Dr. Foster, os sintomas de determinadas doenças , assim como a probabilidade de sermos vítimas de certos eventos orgânicos, como infartos do miocárdio,— também variam ao longo do dia, devido a mudanças impulsionadas pelo relógio biológico.

Por isso, o horário em que tomamos determinada medicação pode fazer a diferença.

“Como as centenas de reações químicas e mudanças físicas que ocorrem em nossos corpos variam muito ao longo do dia, os sintomas das doenças também mudam ao longo desse tempo. Como resultado, há um momento ‘ideal’ para tomar muitos medicamentos para torná-los mais eficazes. E muitas pesquisas respaldam isso”, escreveu o Dr. Foster em um artigo para o jornal britânico Daily Mail.

Segundo ele, já foram identificadas mais de 100 remédios que têm efeitos diferentes ao longo do dia.

É importante lembrar, no entanto, que eventuais mudanças no horário de qualquer medicação devem ser sempre discutidas antes com o médico.

Quando a pressão alta baixa mais

É o caso dos medicamentos para combater a pressão alta. Pesquisas indicam que essa categoria de medicação oferece mais proteção contra ataques cardíacos e derrames quando tomado na hora de dormir — em vez de pela manhã.

“Alguns estudos muito interessantes mostram que tomar o anti-hipertensivo antes de dormir pode reduzir quase pela metade as chances de um derrame e um ataque cardíaco”, explicou Foster em entrevista recente.

Foi o que também mostrou um estudo da Universidade de Vigo, na Espanha, realizado em 2019, que contou com a participação de quase 20 mil pessoas que tomavam esse tipo de medicamento.

Os participantes foram divididos em dois grupos aleatoriamente — um deles tomava os comprimidos pela manhã; o outro, na hora de dormir.

Eles foram monitorados pelos pesquisadores por pelo menos cinco anos.

Os resultados mostraram que os participantes que tomavam o medicamento à noite tinham quase metade do risco de sofrer um infarto ou de morrer em decorrência dele, bem como derrames ou insuficiência cardíaca.

Como explicar esse “calendário” da saúde?

“Um dos principais fatores que contribuem para isso é o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial nas últimas horas antes de acordarmos todos os dias. Na prática, esse aumento — impulsionado pelo relógio biológico — nos faz levantar e tocar a vida”, disse o especialista no Daily Mail.

Mas, se o risco é maior pela manhã, por que então a medicação para hipertensão é mais eficaz quando tomada à noite?

Foster afirma que isso pode ser explicado pela chamada farmacocinética, ciência que estuda o caminho percorrido pelos remédios no corpo humano, desde sua ingestão, absorção até excreção pela urina e fezes.

“Todos esses processos levam tempo. Assim, tomar medicação para pressão arterial na hora de dormir significa que os níveis da droga aumentam e permanecem no corpo em níveis relativamente altos.”

“Como resultado, é capaz de reduzir a pressão arterial para coincidir com o momento em que o aumento acentuado da pressão arterial normalmente acontece, entre 6h da manhã e meio-dia”.

Aspirina: que horas?

De acordo com Foster, um efeito semelhante é observado no caso da aspirina. Muitas vezes receitada para reduzir o risco de derrame, ela também deveria ser tomada antes de dormir, e não pela manhã, diz ele.

Esse medicamento atua para impedir que as plaquetas sanguíneas se unam para formar coágulos indesejados.

“Todas as noites, 100 bilhões de novas plaquetas são produzidas. Portanto, tomar aspirina nessa hora do dia, assim que elas estão sendo formadas, garante que as novas plaquetas sejam “desativadas” antes da hora.

E as vacinas?

“Um estudo feito com uma das vacinas contra a gripe mostra que a vacinação matinal também é muito mais eficaz do que a vacinação à tarde, no final da tarde”, disse Foster. Ele se refere a um ensaio clínico de 2016 feito com idosos, no qual uma parte foi vacinada contra influenza (vírus causador da gripe) pela manhã (entre 9h e 11h) e outra parte à tarde (entre 15h e 17h).

“Os vacinados pela manhã tiveram uma resposta de anticorpos três vezes maior do que os vacinados à tarde, quando o sistema imunológico está começando a desacelerar para o período da noite”, escreveu Foster no artigo do Daily Mail.

Você deve estar se perguntando sobre a vacina contra Covid-19. Nem, ela é muito recente e ainda não se sabe se a hora do dia em que é aplicada afeta a resposta imunológica. Nesse caso, o que é importante saber, por enquanto, é que tomar a vacina contra a Covid-19 pode salvar vidas a qualquer hora do dia.

Para terminar, é bom saber: para manter seu relógio biológico sincronizado, o especialista diz que a exposição à luz do dia é fundamental, além de manter uma rotina consistente de sono-vigília e comer em horários regulares.

Ou seja: tudo de bom faz bem.

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