Estudos mostram complicações mais graves decorrentes da infecção por Covid-19 em pacientes portadores de diabetes. E, de outro lado, aumento de casos e agravamento de pacientes diabéticos mantidos há meses em isolamento social: a inatividade e dietas “gordas” são uma bomba- relógio para os índices de glicemia. Como evitar ou controlar o diabetes na pandemia?
Um fator agravante: na quarentena, indivíduos com diabetes podem ter dificuldades de acesso às medicações e a profissionais de saúde. Como resultado, pode ocorrer descompensação glicêmica. A pandemia só tem agravado uma situação já grave na epidemiologia do diabetes no Brasil. De acordo com a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), no período entre 2006 e 2019, a prevalência de diabetes tipo 2 – mais relacionado ao estilo de vida – passou de 5,5% para 7,4% da população. O Brasil tem cerca de 16,8 milhões de pessoas com a doença, sendo mais de 14 milhões com o tipo 2 – ocupando o sexto lugar no ranking mundial. A estimativa para 2045 é de que 20 milhões de pessoas terão diabetes no Brasil, segundo o último Atlas do Diabetes da International Diabetes Federation (2019).
A endocrinologista Tarissa Petry, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, ressalta que o aumento de casos e de diagnósticos são consequência do crescimento do sedentarismo, maus hábitos alimentares e da obesidade, doença relacionada ao diabetes – tudo isso “estimulado” pelo isolamento doméstico. De acordo com a Vigitel, dois em cada 10 brasileiros têm obesidade e mais da metade dos brasileiros está com sobrepeso (55,4%). “Vivemos uma pandemia do diabetes e da obesidade. A maioria das pessoas com diabetes não têm controle da doença, que, além de gerar problemas cardiovasculares e insuficiência renal, pode ser fatal. O que pode levar o paciente à morte não é só a descompensação da glicose no sangue, mas principalmente suas complicações”, diz a médica.
O Diabetes Mellitus tipo 2 tem origem na resistência insulínica, que acontece quando o organismo não consegue mais usar adequadamente a insulina, hormônio que controla a entrada de glicose nas células, sobrecarregando o pâncreas. Ao longo do tempo, esse quadro causa a falência do órgão, que vai deixando de produzir o hormônio – só aí, em boa parte dos casos, levando ao diagnóstico da doença, que é a principal causa de novos casos de cegueira, derrames cerebrais, infarto do miocárdio, amputações de membros, insuficiência renal e transplante renal no mundo.
Por outro lado, diabéticos também estão dentro do grupo de risco da Covid-19 – já que a hiperglicemia compromete a resposta imune do organismo, dificultando o combate às infecções. “Pessoas que já têm a doença há algum tempo e complicações associadas, assim como o descontrole glicêmico, estão mais suscetíveis a evoluir para a forma grave do Covid-19. Por isso é primordial fazer o tratamento do diabetes corretamente”, reforça a Dra. Tarissa. E isso vale sobretudo para quem está isolado em casa. Especialistas publicaram há pouco, no New England Journal of Medicine, a hipótese de que a Covid-19 também pode desencadear o diabetes em pessoas saudáveis e agravá-lo em quem já é portador da doença. Dados internacionais, publicados em revistas médicas, mostram que mais de 60% das internações por Covid-19 em Nova York, são de pessoas com obesidade; e próximo a 50%, de pessoas com diabetes. Na Itália, dois terços dos pacientes com Covid-19 internados em UTIs tinham diabetes. Diante desses dados alarmantes, especialistas enfatizam a necessidade de se investir em estratégias de controle da disseminação do diabetes, assim como da obesidade, para que nesta, ou em futuras pandemias, evite-se a alta ocupação de leitos em hospitais. Já para os pacientes diabéticos isolados em casa, a “cartilha” é a de sempre – mas com mais disciplina: o máximo possível de exercícios físicos – ou pelo menos uma movimentação mais dinâmica; alimentação saudável – e todo mundo conhece os fundamentos dessa dieta; e, ainda mais fundamental, controlar os níveis de glicose com os monitores portáteis para detectar elevações súbitas ou alarmantes.
TRATAMENTO
Nos últimos anos, novos medicamentos surgiram e ampliaram as opções para o tratamento do diabetes. Entre os fármacos que podem ajudar no tratamento estão os análogos do hormônio GLP-1 e os inibidores da SGLT- Uma nova geração de insulinas também tem melhorado a posologia para os pacientes do tipo 1, e alguns do tipo 2, que necessitam dessa terapia. Mesmo com essas novas associações de medicações e insulinas é fundamental que o paciente siga o tratamento. “A adesão não é fácil, pois trata-se de uma doença crônica e progressiva, com muitas comorbidades. A maioria tem dificuldades em tomar medicações corretamente e manter o estilo de vida saudável”, pondera a endocrinologista.
“Quando já diagnosticado, dependendo da gravidade, o diabetes pode ser controlado com a realização de atividade física e adoção de estilo de vida e alimentação saudável, mesma fórmula que evita o desenvolvimento da doença. Em outros casos, exige o uso de medicamentos para controlar a glicose”, diz a Dra. Tarissa.
Quando o tratamento clínico não consegue contro- lar adequadamente o diabetes, uma opção é a cirurgia metabólica. Após a cirurgia, o índice de remissão da doença chega de 70 a 80% dos casos, com suspensão ou diminuição da medicação. Estudo publicado recen- temente na Jama Surgery, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, aponta que a cirurgia metabólica é o tratamento mais eficaz na remissão de complicações renais em pes- soas com diabetes tipo 2.
Pacientes que convivem com o diabetes passam a contar com uma opção inovadora e segura para melhorar o controle glicêmico, já disponível no Brasil, com menor risco de hipoglicemias para os usuários. O Brasil é o segundo país a disponibilizar a insulina inalável Afrezza, em embalagens com 90 e 180 refis, e dois inaladores por caixa. A dosagem recomendada deve ser indicada pelo médico. A insulina inalável tem ação ultrarrápida e é mais parecida com o hormônio produzido naturalmente pelo organismo em indivíduos saudáveis. A Afrezza se dissolve pelo pulmão após a inalação e atinge imediatamente a corrente sanguínea – por isso, os níveis máximos da medicação são alcançados entre 12 a 15 minutos após a administração, que deve ser realizada antes das refeições. A terapia é indicada para pacientes adultos.
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