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O atendimento farmacêutico na depressão

Charming female doctor giving advice to a female patient.

O décimo fascículo do projeto Farmácia Estabelecimento de Saúde, do CRF-SP, aborda um dos maiores problemas de saúde pública da atualidade: a depressão, que atinge mais de 15 milhões de brasileiros, em diversos níveis. O farmacêutico não pode prescrever antidepressivos – mas tem um papel importante para minimizar um quadro depressivo, já que pode aplicar seu conhecimento técnico e postura humanitária para atuar não apenas na orientação durante o tratamento, mas na prevenção da doença.

Conhecida como o mal do século, a depressão tem sido uma das principais causas de consultas a psiquiatras e psicólogos. Muitas vezes, o paciente não faz o tratamento por desconhecer os sintomas. A famosa “tristeza que não passa” no fundo pode ser um sério caso de depressão, que, se identificado e tratado em tempo, tem cura. O fascículo 10 do projeto – aqui, na íntegra:  http://www.crfsp.org.br/documentos/materiaistecnicos/fasciculo_10.pdf – aborda tópicos como a responsabilidade do farmacêutico na dispensação de medicamentos utilizados no tratamento da depressão, fisiopatologia, farmacoterapia, os tratamentos não farmacológicos, orientação farmacêutica a pacientes com depressão, pacientes que requerem atenção especial e ainda uma seção de apêndices contendo tabelas de medicamentos e interações. A intervenção do farmacêutico permite a melhoria da saúde do paciente e nos resultados do tratamento, refletindo, consequentemente, na saúde pública. Esse fascículo é mais um instrumento para auxiliar o farmacêutico a exercer com excelência e ética seu papel de profissional de saúde. Além disso, quando essa atuação é dentro da farmácia, ratifica ainda mais o local como porta da saúde pública brasileira.

Raio-x da depressão

Os transtornos de humor fazem parte de um grupo de condições mentais que se caracterizam fundamentalmente por ocasionarem alterações de humor. A depressão, um dos principais transtornos de humor, é considerada o “Mal do século 20”. Mas se trata de uma doença que acompanha a humanidade desde a Antiguidade, conhecida na época como melancolia. Antes mesmo da Era Cristã, os gregos já associavam as doenças da mente às disfunções corporais, por meio do ditado “Mente sã em corpo são”. Os médicos gregos acreditavam que indivíduos melancólicos produziam bile negra pelo fígado, o que causaria sintomas característicos, como apatia, tristeza, letargia e alucinações. Esse quadro é muito semelhante ao que conhecemos atualmente como depressão, embora essa substância nunca tenha sido encontrada no corpo humano. Durante a Idade Média, a prevalência da religião alterou a forma como se enxergavam as doenças mentais, tornando-as místicas e sobrenaturais. A doença passou a ser conhecida como “O demônio do meio-dia” e os pacientes que sofriam desse mal eram aprisionados e mutilados. Foi somente na Idade Contemporânea que a depressão foi considerada uma doença mental, graças aos avanços da farmacologia, patologia e psicopatologia. No século 20 surgiram os primeiros antidepressivos e a doença foi catalogada na Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial de Saúde (OMS). No fascículo 10 de sua coleção, os especialistas do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo tratam somente da chamada depressão maior, transtorno depressivo mais comum e amplamente estudado, o qual, para fins didáticos, é denominado apenas “depressão”.

Falta tratamento adequado

Apesar de atingir grande parte da população, a depressão, em geral, não é diagnosticada ou tratada de maneira adequada, já que, na maioria das vezes, está associada com sintomas de ansiedade. Para alcançar o atendimento eficaz, o paciente poderá enfrentar algumas limitações, como falta de recursos, falta de profissionais de saúde capacitados, estigma social associado a transtornos mentais e avaliação imprecisa. A OMS estima que cerca de 75% das pessoas com depressão não recebem tratamento adequado. A depressão apresenta como sintomas centrais: humor deprimido, perda de interesse ou ausência de prazer, oscilações entre sentimento de culpa e baixa autoestima, distúrbios do sono ou do apetite, sensação de cansaço e falta de concentração. O sentimento de vazio, de falta de sentido na vida e de esgotamento caracterizam os casos mais graves, chegando às ideias e tentativas de suicídio

O tratamento da doença pode ser farmacológico ou não – e vários profissionais de saúde estão envolvidos, cabendo ao farmacêutico orientar corretamente os pacientes no momento da dispensação, além de tentar acompanhá-los durante todo o tratamento.

Prescrição, não. Orientação, sim

Os antidepressivos só podem ser dispensados mediante retenção de receita e é responsabilidade do farmacêutico manter a guarda, registro e controle dos medicamentos e produtos sujeitos a controle especial. Também é vedada a dispensação desses medicamentos/produtos por meio remoto. Os critérios e procedimentos para a autorização, o comércio, o transporte, a prescrição, a escrituração, a guarda, os balanços, a embalagem, o controle e a fiscalização de substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial são estabelecidos pela Portaria SVS/MS nº 344/98 e pela instrução normativa aprovada pela Portaria SVS/ MS nº 6/99. Neste contexto, os medicamentos antidepressivos constam na Lista C1 da Portaria SVS/MS nº 344/98, denominada “Lista das outras substâncias sujeitas a controle especial”, a qual exige Receita de Controle Especial Branca para prescrição, devendo ser preenchida em duas vias, nas formas manuscrita, datilografada ou informatizada e devendo apresentar em destaque os dizeres: “1ª via – Retenção da Farmácia” e “2ª via – Devolução ao Paciente”. (SERGIO: reproduzir página 11 do fascículo)

Em caso de emergência, os medicamentos à base de substâncias da Lista C1 poderão ser dispensados em papel não privativo do profissional ou da instituição, contendo obrigatoriamente o diagnóstico ou CID, a justificativa do caráter emergencial do atendimento, data, inscrição no Conselho Regional e assinatura devidamente identificada. O estabelecimento que dispensar o referido medicamento deverá anotar a identificação do comprador e apresentá-la à Autoridade Sanitária do Estado, Município ou Distrito Federal, dentro de 72 horas, para visto.

É permitido que o prescritor substitua o Receituário de Controle Especial por uma receita comum, desde que sejam preenchidos todos os campos obrigatórios e cumpridos os mesmos requisitos para que ocorra a dispensação. Nesse caso, também existe a necessidade de duas vias.

Considerando que a dispensação de antidepressivos pode ser realizada somente mediante prescrição médica e que o farmacêutico é o profissional melhor capacitado para conduzir ações relacionadas aos medicamentos, o seu principal objetivo é garantir a adesão terapêutica, promover o uso racional de medicamentos e oferecer instruções para o paciente, em linguagem clara e objetiva, respeitando o nível de compreensão individual. Dessa forma, o farmacêutico é indispensável para organizar os serviços de apoio necessários para o desenvolvimento pleno da assistência farmacêutica

Como os pacientes são únicos, têm suas histórias de vida, problemas de saúde, contextos sociais e necessidades específicas, é importante que o farmacêutico sempre os oriente sobre as informações contidas na prescrição e avalie o seu grau de entendimento, procurando esclarecer possíveis dúvidas.

De acordo com o perfil de cada paciente, diferentes itens podem ser abordados, porém o conteúdo básico a ser enfocado deve abranger a discussão sobre a(s) enfermidade(s) apresentada(s), seu tratamento e hábitos de vida. Diante da terapia medicamentosa, o farmacêutico deve ainda orientar os usuários sobre o possível aparecimento de reações adversas decorrentes do uso dos antidepressivos, bem como de interações desses medicamentos, as quais podem levar a diversos efeitos indesejados. A orientação farmacêutica adequada melhora a qualidade de vida dos pacientes com depressão e aumenta a aderência ao tratamento, reintegrando em grande parte esses pacientes à sociedade

Se o farmacêutico perceber que o paciente não aderiu ao tratamento corretamente ou qualquer outro problema relacionado à terapia, deve encaminhá-lo ao prescritor, juntamente com uma carta explicando os motivos do encaminhamento. Caso haja alguma dúvida na prescrição, o farmacêutico poderá solicitar esclarecimentos ao prescritor. Essa abordagem requer alguns cuidados, uma vez que boa parte dos profissionais não está habituada a discutir o tratamento de seus pacientes com outros especialistas e, consequentemente, pode interpretar o questionamento do farmacêutico como uma invasão de seu espaço de atuação. A fim de superar tais obstáculos, o farmacêutico deve:

♦ Mostrar-se acessível e responder às perguntas que possam surgir de forma oportuna e formal

♦ Sugerir alternativas ao invés de recomendar

♦ Demonstrar interesse pela evolução do paciente

Pacientes especiais

O uso dos medicamentos, de modo geral, não é isento de riscos. Por isso, o farmacêutico deve estar atento e redobrar sua atenção quando o usuário for idoso, gestante, lactante ou criança. Alguns cuidados adicionais devem ser considerados para esse púbico. A ansiedade e os transtornos depressivos são muito prevalentes nos idosos, por exemplo. O tratamento da depressão nesses pacientes torna-se mais difícil devido a fatores do envelhecimento, como alterações na distribuição e eliminação dos fármacos e a potencialidade de interações medicamentosas, devido à presença de comorbidades. O farmacêutico pode:

♦ Questionar se o paciente utiliza outros medicamentos, a fim de avaliar potenciais interações

♦ Orientar quanto ao horário correto de administração de todos os medicamentos, procurando adequar os horários dos medicamentos prescritos no receituário em questão aos que o paciente já utiliza

♦ Para alguns pacientes com problemas auditivos, pode-se falar um pouco mais alto e sempre de frente para o paciente, verificando se ele está compreendendo o que está sendo dito e reforçando as principais informações por escrito

♦ O uso de cores ou texturas diferentes para identificar os diversos medicamentos poderá evitar o risco de troca

Outro grupo de risco: mulheres apresentam maior probabilidade de desenvolver depressão, principalmente durante o período reprodutivo; por isso, um número significativo de mulheres utilizam antidepressivos durante a gestação. Alguns antidepressivos, no entanto, constituem riscos para o feto.

♦ Aumento do risco de malformações congênitas graves, se administrados durante o primeiro trimestre.

Cabe ao médico a avaliação do risco-benefício sempre que prescrever um antidepressivo para uma gestante, bem como para uma lactante. Mas isso não exclui a avaliação da prescrição pelo farmacêutico, diante do estado gestacional da paciente. Na dúvida, o médico prescritor deve ser contatado antes da dispensação.

 

 

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