Num passado recente, a úlcera era uma patologia frequentemente cirúrgica. Quando se descobriu que era causada por uma bactéria, a H. pylori, ela passou a ser tratada com antibióticos. Então, dos males estomacais, o refluxo gástrico – ou gastroesofágico – passou a ser o pior inimigo cotidiano na boca do estômago. Mas também tem remédio.
Como diz o Prof. Dr. Luiz Carneiro, Diretor da Divisão de Transplantes de Fígado e Orgãos do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, o ideal é que os alimentos e bebidas que ingerimos fiquem restritos ao estômago, para serem digeridos. No entanto, algumas pessoas apresentam o refluxo gastroesofágico, um problema caracterizado pelo retorno do conteúdo do estômago para o esôfago, e até mesmo a laringe e a boca. Um engolfo de azedo e ácido que vem à boca, uma sensação muito desagradável, que prejudica a qualidade de vida. E, além do desconforto, essa condição – destaca o Dr. Carneiro – exige atenção e providências, porque pode trazer complicações mais sérias se ocorrer com frequência.
Por que o alimento “volta atrás”?
Entre o esôfago e o estômago, existe uma válvula que controla a passagem de alimentos entre eles. Ela se abre quando engolimos algum alimento e se fecha para impedir seu retorno ao esôfago. É fundamental que essa estrutura funcione adequadamente, porque as paredes esofágicas não têm proteção natural para os ácidos estomacais – que, quando entram em contato com os tecidos do esôfago, causam sintomas e incômodos, que podem evoluir para lesões e levar a complicações diversas. Mas alguns indivíduos apresentam um mau funcionamento dessa válvula, ocasionando então o refluxo gastroesofágico.
Sentido inverso
O conteúdo do estômago volta pelo canal, podendo chegar até o esôfago, quando é chamado de gastroesofágico; ou atingir a garganta e o nariz – nesse caso, refluxo laringofaríngeo.
O que provoca o refluxo gastroesofágico
O refluxo gastroesofágico é considerado uma condição natural em bebês até um ano de idade. Isso porque seu sistema gástrico ainda está em desenvolvimento e a válvula pode não funcionar corretamente. Mas é esperado que os refluxos se tornem menos frequentes a partir do seis meses – e desapareçam no primeiro ano. No caso dos adultos que apresentam essa condição, ela é provocada por alterações na estrutura da válvula e outros músculos. Há possibilidade de ocorrer a formação de hérnia de hiato, uma protrusão localizada na porção final do esôfago, que pode determinar o mau funcionamento do esfíncter (a válvula).
Sintomas mais comuns
Dependendo do tipo de alimento ingerido, pode haver complicações durante a digestão e a pessoa apresentar um quadro isolado de refluxo gastroesofágico, que não se repete. Uma grande quantidade de alimento também pode dificultar o trabalho do estômago e ocasionar o problema. No entanto, quando a pessoa apresenta sintomas mais de duas vezes por semana, então fica caracterizado o quadro de refluxo. Pessoas com essa condição manifestam os seguintes sinais:
*Queimação estomacal
*Queimação no esôfago e/ou garganta
*Estômago “pesado”
*Má digestão
*Azia;
*Eructação (arrotos) frequente
*Tosse
*Dificuldade para engolir
*Mau hálito
*Dor e/ou queimação no peito
*Rouquidão matinal.
Os sintomas do refluxo gastroesofágico se agravam sob certas condições – como quando o indivíduo dobra o corpo ao se abaixar. Também é mais frequente na posição horizontal e ao deitar-se, depois de ter se alimentado.
Possíveis complicações
Quando não tratado, o refluxo pode trazer complicações que se tonam severas, se não controladas. Como os tecidos não suportam as agressões do ácido estomacal, o contato frequente com ele causa irritações ou lesões no esôfago, laringe e faringe. Esses ferimentos, quando se agravam, chegam até mesmo a evoluir para o câncer. O refluxo também provoca esofagite, laringite e faringite. Quando o conteúdo estomacal afeta o aparelho respiratório, também desencadeia asma, pneumonia e bronquite, porque afeta os pulmões ao ser aspirado. Há casos em que a asma melhora muito quando o paciente recebe tratamento para refluxo. Quando o refluxo chega até a boca, ele também traz complicações para a saúde bucal. O ácido estomacal na cavidade oral causa desgastes no esmalte dentário e desequilibra o pH da região, deixando-a suscetível a diversos problemas.
Tratamento
No caso de adultos, ao notar a constância dos sintomas de refluxo, é fundamental consultar um médico para evitar que os ácidos do estômago agridam os tecidos. Lembrando que não é recomendada a automedicação nem tampouco medidas caseiras para controlar o refluxo gastroesofágico, o Dr. Carneiro ressalta que é preciso investigar as causas do refluxo para tratar o problema adequadamente. E a farmácia tem hoje os medicamentos mais adequados para cada caso. Ajustes na dieta e medidas posturais são os principais pilares – incluindo o uso de antiácidos, antagonistas H2, inibidores de bomba de prótons, agentes procinéticos e relaxadores do fundo gástrico.
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