Por Reinaldo Polito
Já percebeu como algumas pessoas são sedutoras quando se expressam verbalmente? Em qualquer circunstância. Seja na reunião da empresa, nos palcos, proferindo palestras, nas rodas de amigos e familiares, nas conversas do dia a dia. São verdadeiros uirapurus, que, segundo a lenda, possuem o canto tão bonito que os outros pássaros emudecem ao ouvi-los.
Assim era, por exemplo, Joaquim Nabuco. De acordo com Afonso Celso, na sua obra “Oito anos de parlamento”, não havia quem se ombreasse a ele: “Mal o presidente proferia a frase regimental: tem a palavra o senhor Joaquim Nabuco, corria um calafrio pela assistência excitada; eletrizava-se a atmosfera”.
Nabuco falava e os ouvintes emudeciam
Celso relata ainda o que ocorria no parlamento ante seus discursos: “Mal descerrava os lábios, restaurava-se o silêncio. Nem era possível detê-lo. Continuasse o ruído, e a portentosa voz, a vertiginosa dicção de Nabuco prestes o abafariam”.
Assim são hoje também esses que falam e são ouvidos com admiração. Conseguem nos fazer entender a frase atribuída a Goethe: “A música seria a mais bela das artes se não fosse a oratória”.
Afinal, por que alguns conseguem nos hipnotizar com sua comunicação? O que há de diferente quando os comparamos com os que chegam até a provocar aversão ao discursar? Se analisarmos as características dos bons comunicadores, não encontraremos muitas semelhanças, pois cada um tem o seu próprio estilo de se manifestar.
A espontaneidade
Talvez aí já esteja o primeiro importante atributo dos bons oradores: possuem maneira única, inimitável no uso da palavra. Ainda que não se apresentem com as técnicas mais elaboradas da arte de falar em público, conseguem aflorar o que possuem de melhor no seu potencial, cultivando um jeito próprio, inigualável de se comunicar.
Por isso, ao buscarmos o aprimoramento dos nossos dotes comunicacionais, podemos até observar os exemplos dos melhores oradores que possamos encontrar, mas precisaremos fazer uso apenas dos atributos consonantes com o nosso perfil. Se copiarmos o modo como os outros se apresentam, seremos no máximo boas cópias. Se, entretanto, nos dedicarmos, nos desenvolvermos e respeitarmos o nosso próprio estilo, conquistaremos o melhor nível de comunicação a que poderíamos aspirar.
O interesse dos ouvintes
Outro traço marcante é que esses que nos envolvem com suas conversas e perorações sabem dizer o que exatamente desejamos ouvir. Ainda que o tema fuja do nosso campo de interesse, possuem a invejável habilidade de adaptar a mensagem para abordagens que possam nos atrair. Temos, assim, a impressão de que sairemos engrandecidos depois de ouvi-los.
Os arrebatadores de plateias jamais permanecem no limbo, na mesmice, na pasmaceira. Não, por mais insonso que possa parecer o assunto, conseguem vestir suas ideias com imagens criativas, conduzindo-nos para reflexões que nos entusiasmam.
Essa deve ser uma preocupação permanente em nossas apresentações. Devemos nos perguntar sempre: que tipo de alteração devo proceder na mensagem para que ela seja atraente e vá ao encontro do interesse dos ouvintes. Pequenos exemplos podem cumprir muito bem esse papel.
O bom desempenho seduz as plateias
O desempenho oratório também é fundamental para conquistar as pessoas. Entram nessa esteira um bom ritmo da exposição, com melodiosas alternâncias do volume da voz e da velocidade da fala. Em certos momentos o volume deve ser vigoroso, contundente, firme. Em outros, suave, sussurrante, convidativo. A velocidade jamais será contínua, pois precisará acompanhar e interpretar o sentimento característico da mensagem.
Da mesma forma, nenhum ouvinte deverá fazer esforço para compreender determinada palavra. Cada vocábulo precisa corporificar com perfeição as ideias comunicadas e considerar a capacidade de entendimento do público.
Os gestos harmoniosos, moderados, expressivos são essenciais para destacar e complementar as informações relevantes. Haverá momentos em que precisarão até substituir os termos que teimem em escapar da memória nos instantes em que o ritmo não possa ser quebrado, nem a concentração dos ouvintes perdida.
Um resumo
Esses são alguns dos principais predicados para quem deseja ser um comunicador eloquente, persuasivo e atraente: ser espontâneo na forma de se expressar. Ser atento ao interesse dos ouvintes. Ser criativo na maneira de transmitir as ideias. Ser competente no uso da voz, do vocabulário e da expressão corporal.
Não é simples, mas também não é impossível. Quem se dedicar com disciplina e empenho no aprendizado e aperfeiçoamento da arte de se comunicar irá superar suas dificuldades e poderá se transformar em excelente orador. Siga pelo Instagram: @polito
Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no contatos@polito.com.br
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