Orgulho de ser farmacêutico

Por Dr. Juan Carlos Becerra Ligos

Farmacêutico, Coordenador de Assuntos Regulatórios do Sincofarma-SP

Ser farmacêutico não tem como propósito apenas o benefício próprio e auferir lucros – é, antes de tudo, uma autorização, um privilégio que a sociedade nos dá para cuidar de pessoas. E melhorar a qualidade de vida delas.

O problema da saúde no Brasil, seja privada ou pública, para milhões de brasileiros: o paciente não tem acesso, muitas vezes, a tratamentos de qualidade e ao acompanhamento do seu estado de saúde, pelos profissionais de saúde, seja por falta de médicos, seja por falta de equipamentos para exames, seja por falta de leitos e até medicamentos. Soma-se a isso a falta de perfil de muitos desses profissionais para lidar com pessoas e fazer o acompanhamento do tratamento e pós-consumo dos medicamentos. Esse relacionamento exige um trabalho mais profundo, no qual, em primeiro lugar, tem de haver maior acesso aos profissionais de saúde e a tratamentos de qualidade- não simplesmente acesso aos medicamentos.

Nesses dois últimos anos, os farmacêuticos mostraram seu valor à sociedade, prestando serviços e mantendo a operação das farmácias e estabelecimentos de saúde – enfim, cuidando de pessoas.Outro ponto positivo foi a publicação de normas regulatórias que permitiram ampliar e melhorar o acesso da população aos farmacêuticos e aos medicamentos.Entre eles, a telemedicina e os canais digitais de relacionamento e atendimento avançaram muito, o que facilitou o acesso aos farmacêuticos,principalmente das pessoas idosas ou com alguma deficiência.

Raio-x da missão farmacêutica
As especialidades farmacêuticas são hoje agrupadas em 10 linhas de atuação: alimentos, análises clínico-laboratoriais, educação, farmácia hospitalar e clínica, farmácia industrial, gestão, práticas integrativas e complementares, saúde pública e toxicologia.

Atualmente, para efeito de registro de certificados e títulos na carteira profissional, estão previstas 135 especialidades farmacêuticas.

No Brasil, temos hoje 234.301 farmacêuticos inscritos nos conselhos regionais de Farmácia; nas farmácias e drogarias comerciais, 89.879; indústrias farmacêuticas, 454; distribuidoras de medicamentos, 4.648; e importadoras de medicamentos, 74 (dados de 2020-CFF)

Os graduados em Farmácia podem, além de trabalhar em drogarias e farmácias de manipulação, atuar na indústria cosmética, na indústria de alimentos, nas indústrias farmacêuticas e em laboratórios de análises clínicas, entre outros.O varejo farmacêutico é predominantemente feminino: nas farmácias com manipulação, quase 80% dos profissionais são mulheres.

O curso de Farmácia também tem uma quantidade de alunas bastante superior ao de homens. Em ambos os sexos, a maioria dos farmacêuticos tem como primeiro emprego a drogaria sem manipulação.

Temos 100 mil farmácias em atividade e cada uma precisa de mais de um farmacêutico para operar no mercado legalmente. Portanto, é um setor que absorve a maior parte dos profissionais que se formam. Existe muita rotatividade no setor, principalmente por falta de sintonia entre a prática e a graduação, que acaba por “desencantar”, fazendo com que o farmacêutico não se identifique com o propósito dos estabelecimentos varejistas. Pelo ângulo da empresa, detectamos a queixa da falta de reciprocidade do farmacêutico.

O varejo não requer profissionais com muita experiência, até porque oferece programas de treinamento alinhados com o propósito e o posicionamento da farmácia no mercado – posicionando esse setor como a primeira opção de emprego para os farmacêuticos.

Autonomia

As grandes organizações precisam ter um maior controle das suas operações – assim, padronizariam muitas das atividades dos farmacêuticos, a fim de reduzir a probabilidade de problemas, diante das normas regulatórias e na relação com os clientes, o que limita a autonomia da atividade do farmacêutico.

Já as farmácias de “vizinhança”, independentes, atendem de maneira mais pessoal, o que requer mais autonomia dos farmacêuticos, para que possam atender e prestar serviços farmacêuticos mais personalizados – além de executar a maioria dos serviços administrativos de competência dos farmacêuticos.

Assistência farmacêutica

O serviço de atenção farmacêutica consiste na avaliação da eficácia do tratamento prescrito e a promoção do uso racional de medicamentos. O farmacêutico que atua no varejo precisa entender que a população hoje está mais informada, interconectada e instrumentalizada. A questão é como passar informações e orientações (não a responsabilidade), para que o cliente tome decisões corretas. Informação, ele tem disponível na internet; a dificuldade é reconhecer sua necessidade. Os farmacêuticos do varejo deixarão de ser os detentores do conhecimento e de informações, para se tornarem “educadores” e “zeladores” da saúde das pessoas, ajudando-os a cumprir seu tratamento e resolver os seus problemas, orientando os pacientes a tomar decisões corretas como parte da atenção farmacêutica.

Profissionais competitivos

As capacidades profissionais dos farmacêuticos ajudam, mas não serão suficientes para torná-los um profissional competitivo no atual mercado de trabalho. Seu comportamento, o modo como argumenta e age, a simpatia, o otimismo, o tom da voz, a inspiração e a alegria, tudo isso vai determinar o modo como as pessoas o veem – e é um fator decisivo para ter sucesso no mundo empresarial.

É certo que o trabalho de cada colaborador da farmácia influencia diretamente, ou indiretamente, no atendimento ao cliente. Essa consciência alterou a formação do farmacêutico, que passou a ser composta não apenas por conhecimentos e habilidades técnicas, mas também por habilidades humanas.

Entre as competências existentes, as de liderança e de gestão de pessoas são as mais requisitadas, além das competências técnicas.
Outro ponto é a tecnologia, que não é mais uma tendência, mas uma realidade. As tecnologias digitais estão em todos os lugares, são adaptáveis e estão sendo usados por uma quantidade cada vez maior de pessoas – e isso afeta profundamente a forma como os farmacêuticos podem se relacionar com os pacientes.

Aplicativos, comércio eletrônico e telemedicina ganham espaço na rotina dos consumidores, exigindo uma adaptação rápida e permanente das empresas e farmacêuticos.

O consumidor está mais híbrido e complexo e a internet está presente em momentos decisivos do consumo.

Os principais atributos requisitados hoje do farmacêutico no varejo

– Manter o controle sanitário do comércio de medicamentos e insumos farmacêuticos e correlatos, além de interpretar e estabelecer condições para o cumprimento da legislação pertinente

– Fazer a avaliação da prescrição médica

– Assegurar as condições adequadas de conservação e dispensação dos produtos

– Manter a documentação correspondente aos produtos sujeitos a controle especial e antimicrobianos em dia e atendendo a legislação.

– Manter a guarda dos produtos sujeitos a controle especial de acordo com a legislação específica

– Prestar a assistência farmacêutica necessária ao consumidor, esclarecendo todas suas dúvidas

– Promover treinamento inicial e contínuo dos funcionários para a adequação da execução de suas atividades.

E ainda precisa desenvolver atributos, que vão além das principais funções na área técnica:

– Discernimento para entender e satisfazer as necessidades, desejos e expectativas dos clientes, com lucratividade para a farmácia.

– Tem que gostar de gente

– Oferecer cortesia e gerar empatia

– Habilidades de comunicação

– Autossuficiência técnica

– Bom relacionamento interpessoal, ter prazer em se relacionar.

– Autonomia para resolver problemas e tomar decisões

– Capacidade de gerenciar crises

– Atualizar-se e capacitar-se constantemente, ter vontade de aprender

– Usar tecnologia para melhor atender o cliente

– Automotivação

– Ser dinâmico

– Responsável

– Cumprir prazos e tarefas

– Ter atitude, não esperar ninguém mandar. Mas não simplesmente fazer… fazer bem feito!

– Espírito de liderança criativa

– Capacidade para trabalhar em equipe

Parabéns aos farmacêuticos, neste 20 de janeiro e nos demais dias do ano, quando cuidam de “pessoas”, não apenas de doentes.