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Novembro Azul: Os segredos da próstata

Por Celso Arnaldo Araujo

Privativa dos homens, a próstata é uma glândula de comportamento enigmático. Sua única função é produzir o líquido que, no processo de ejaculação, depois de atravessar os testículos e recolher os espermatozoides, transfere o sêmen então formado para o aparelho reprodutor da mulher. É, portanto, um agente fundamental do processo de fertilização. E, justo no momento – a terceira idade – em que o homem já não costuma fecundar, e portanto já pode dispensar a missão da próstata, esta começa a crescer, em vez de atrofiar, como seria anatomicamente mais lógico. Então a chamada Hiperplasia Prostática Benigna pode se tornar um tormento para os homens na hora de tentar urinar – nesse sentido, as farmácias têm hoje em suas prateleiras diversos medicamentos capazes de reduzir a dimensão e os problemas da próstata. Mas o risco de câncer, cuja detecção precoce inclui, necessariamente, o ainda temível toque, ainda está presente na agenda masculina de cuidados – e é o tema principal da campanha Novembro Azul. O Dr. Marcos Dall’Oglio, especialista em Urologia Oncológica e Cirurgia Robótica e professor Associado da Faculdade de Medicina da USP, esclarece alguns dos mistérios dessa glândula que, em sua normalidade, não pesa mais do que 20 gramas – e pode chegar a 300, em casos extremos de crescimento.

O professor Marcos começa detalhando esse fenômeno. “O fato de a próstata crescer se deve a alterações hormonais, sobretudo da testosterona, e a processos inflamatórios crônicos. Esses dois elementos participam da gênese do crescimento prostático quando, paradoxalmente, ela deveria se atrofiar, porque a tendência é o homem, depois dos 50, perder seu caráter reprodutivo”.

Dos três problemas que normalmente acometem a próstata, o câncer, a hipertrofia benigna e a prostatite (infecção), o mais comum é, de longe, a expansão do volume. “Quase 90% dos homens terá, a certa altura da vida, traços de hiperplasia benigna, ao passo que o câncer atingirá um em cada seis homens – só perde, entre os homens, para o câncer de pele. Diante desses números, sempre paira a preocupação de que a próstata pode vir a adoecer”. Existe algo que um homem possa fazer para evitar os males da próstata?

“Sim. Não existe nenhum dado perfeito que indique que isso nos proteja com 100% de garantia. Mas, hábitos alimentares baseados numa baixa ingestão de gordura animal são uma medida importante para proteger a próstata do câncer. Os homens orientais, por exemplo, têm uma incidência muito menor de câncer de próstata que os ocidentais. Basicamente, o que difere as duas culturas é a dieta. Paralelamente, dietas ricas em derivados da soja, selênio e ômega 3 também parecem ser protetoras, assim como a fruta romã e vegetais da família da própolis”. A partir de que idade, se recomendaria essa dieta “pró-próstata”? “Eu recomendaria quanto mais cedo melhor. Homens com história familiar de câncer de próstata, sobretudo parentes de primeiro grau, como pai e irmãos, devem fazer a prevenção mais precoce possível”.

Bem, isso depende de cada um de nós, homens. E no que depende dos médicos, que cuidados básicos se deve tomar para se iniciar um programa de detecção precoce das doenças da próstata? “Se a história familiar está presente, é recomendável que, aos 45 anos, se inicie a prática da monitoração da próstata. Sem parentes de primeiro grau, a partir dos 50 anos. Não é complicado: uma consulta por ano, acompanhada por um exame de sangue para se medir o PSA e, fundamentalmente, o exame de toque. Infelizmente, 5% dos tumores de próstata podem não alterar o PSA – daí o complemento do toque”.

PSA – Prostate Specific Antigen: uma proteína produzida pela próstata que, quando encontrada no sangue em quantidade acima do normal, sugere uma anomalia na glândula. Pode ser um câncer. Ao surgir, nos anos 80, esse medidor já teve seus dias de absolutismo – mas foi deixando de ser completamente confiável como diagnóstico de malignidade. O Dr. Marcos esclarece. “O fato de o médico conhecer o paciente é fundamental para analisar, por exemplo, uma oscilação do PSA – pode ser um fenômeno infeccioso ou o indício de um câncer. Por outro lado, entre os exames disponíveis, não há uma análise tão específica quanto o PSA. Não é perfeito, mas nenhum outro órgão tem um medidor bioquímico tão específico. Por isso, sua dosagem ainda é indispensável. Em homens abaixo de 60 anos com PSA acima de 2,5, isso é um sinal. Na faixa dos 60 a 70, o PA esperado é até 4 – mas deve-se levar em conta que a hiperplasia benigna também produz um pouco mais de PSA. Grosseiramente, cada 10 gramas de próstata produz um ponto de PSA. Um câncer, a cada 10 gramas, vai produzir três vezes mais.

E a hiperplasia benigna? O crescimento da próstata, dos 60 aos 70 anos, chega a seu pico e tende a se estabilizar depois dos 70, quando a bexiga também envelhece. Medicamentos, como o alfabloqueador tansulosina, que relaxam a musculatura da uretra e reduzem a próstata, podem aliviar sintomas – como dificuldade no fluxo urinário. Mas cerca de 10% dos homens terão de operar a próstata por causa da hiperplasia.

Toque de próstata: ainda um mito? O toque e o PSA, juntos, dão mais segurança a médico e paciente, quanto a um diagnóstico preciso. Um complementa o outro. Uma vez por ano, a partir dos 45 (com herança familiar) ou 50 (sem antecedentes na família). Um detalhe: depois dos 80 anos, mesmo sem nenhuma percepção de tumor com o toque, mais da metade dos homens teria na biópsia de próstata alguma célula maligna. Um tumor indolente, nesses casos. Uma dúvida permanente: operar a próstata sempre produz impotência? Responde o Dr. Marcos: “Mito. Uma boa técnica conserva os nervos da ereção, que passam ao lado da próstata, não dentro. Quando se trata uma hiperplasia, dificilmente se afetará a função erétil. No caso de câncer, que exige a retirada de toda a próstata, cuidados especiais, incluindo a cirurgia robótica, que usamos hoje, evitam danos na rede nervosa sexual”.

Voltando ao toque: o urologista, ao realizar o procedimento via retal, sente a próstata na ponta do dedo. Se a glândula tiver consistência pétrea, um mau sinal para o câncer. Ainda há resistência a esse procedimento entre os homens, do tipo “não vou fazer”? Diz o Dr. Marcos: “Nos últimos cinco anos, não tive nenhum paciente que tivesse dito ´não quero ser tocado´. Mas reconheço que ainda há certos traços da velha cultura do homem que o fazem evitar o exame – há, por exemplo, os que se sentem incomodados de ficar nu ou se expor fisicamente diante do médico. Quando comecei na urologia, há 25 anos, sim, havia homens que se recusavam a serem examinados. Isso não acontece mais”.

 

 

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