Pesquisa analisou mais de 3,3 milhões de pacientes que passaram por testes rápidos nas farmácias.
Um estudo inédito da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) e da plataforma Clinicarx acaba de traçar a mais completa radiografia sobre a Covid-19 no país. A pesquisa envolveu cerca de 3,3 milhões de pacientes que se submeteram a testes rápidos no varejo farmacêutico.
Os atendimentos foram conduzidos entre janeiro e junho deste ano por 8.506 farmacêuticos que realizaram a testagem desses pacientes, distribuídos por 2.608 estabelecimentos em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal.
“O objetivo foi esmiuçar informações valiosas para entendermos como a doença se manifesta, quem ela atinge e como a assistência farmacêutica colaborou no combate à pandemia. Inclusive, esse estudo será transformado em artigo científico para veiculação em uma revista médica internacional”, antecipa Sérgio Mena Barreto, CEO da Abrafarma.
Confira alguns dos indicadores mais relevantes:
Jovens e adultos de 18 a 39 anos representaram 49% dos pacientes atendidos. Adultos entre 40 e 59 anos foram o segundo maior grupo, com 33%, seguidos por idosos acima de 60 anos, com 11%. A distribuição entre sexos foi bastante próxima, sendo as mulheres 53,7% do total.
Entre os pacientes com teste positivo de antígeno, os quatro sintomas mais frequentes foram: tosse (68,7% das pessoas), nariz escorrendo (53,6%), dor de garganta (49,0%) e dor de cabeça (48,8%). Sintomas considerados “típicos” da Covid-19, como diarreia (22,4%), dispneia (18,1%), febre (11,9%) e perda do olfato ou paladar (9,5%), foram menos frequentes.
“Essa análise revela um desafio extra para o diagnóstico médico, já que os principais sintomas podem ser decorrentes de vários outros vírus. Entre pacientes com quadros leves a moderados, a realização dos testes rápidos revelou ser fundamental para a detecção de casos e para nortear o tratamento”, comenta Barreto.
Comparando as faixas etárias, observa-se um quadro sintomático bastante semelhante. Como exceção, a tosse foi o sintoma mais reportado entre os idosos (44,2% de todos os pacientes testados) e nariz escorrendo predominou entre crianças (40,8%).
A aplicação da triagem clínica, de acordo com protocolo do Ministério da Saúde, permitiu detectar a suspeita de síndrome gripal ou de quadros respiratórios agudos graves. Em mais de 1,34 milhões de triagens realizadas, 47,1% dos pacientes foram considerados não suspeitos para Covid-19, enquanto 29,1% apresentaram possível quadro de síndrome gripal – podendo ser SARS-CoV-2 ou não – e 12%, suspeita de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), condição relacionada à maior mortalidade. Em 11,3% dos atendimentos, o paciente foi considerado suspeito para caso assintomático.
Sintomas de alerta como dispneia e pressão no peito estiveram presentes em 77% e 54% dos pacientes com suspeita de SRAG, respectivamente, levando ao encaminhamento rápido desses pacientes para atendimento médico.
Os testes de antígeno representaram 85% do total de atendimentos, contra apenas 15% dos de anticorpos. No caso dos anticorpos, um a cada três pacientes (32,3%) tiveram resultado positivo para IgM ou IgG, indicando infecção prévia e soroconversão contra o coronavírus. Para os testes de antígeno, os casos positivos foram um a cada quatro (25,8%), sendo que 90% desses pacientes positivos estavam sintomáticos.
Outros 10% dos pacientes com teste positivo no antígeno eram assintomáticos e descobriram estar com coronavírus graças aos testes rápidos. “As farmácias consolidaram-se como pontos estratégicos de atenção primária, garantindo uma orientação adequada a esse grupo de pessoas e contendo o risco de transmissão da doença”, destaca o executivo.
Os idosos ficaram em primeiro lugar, com 34,5% de testes positivos para antígeno. Na sequência figuram os adultos entre 40 e 59 anos, com 31% de casos confirmados; e em terceiro os adolescentes, com 27%. As crianças até 12 anos tiveram a menor taxa de infecções – 20%.
Em abril de 2020, as farmácias ganharam aval para a realização dos testes rápidos da Covid-19. Desde então, mais de 4,2 mil estabelecimentos aplicaram em torno de 8,8 milhões de testagens, notificadas ao Ministério da Saúde, o que corresponde a 20 mil atendimentos por dia. “Esses serviços são ferramentas que não apenas ampliam o acesso dos brasileiros aos tratamentos clínicos. Eles também dão subsídios para o poder público instituir políticas de estímulo à prevenção e têm o poder de mudar uma cultura hospitalocêntrica, que gera mais custos e compromete a saúde dos brasileiros”, conclui Barreto.
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