Movimento internacional de conscientização para o controle do câncer de mama, o Outubro Rosa foi criado no início da década de 1990 – tendo como objetivo compartilhar informações e promover a conscientização sobre a doença, além de proporcionar maior acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento e contribuir para a redução da mortalidade por esse tumor. A ABCFARMA se associa a essa campanha entrevistando um dos maiores oncologistas do Brasil – o Dr. Paulo Hoff, diretor geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, presidente do Grupo Oncologia D´Or e professor titular de Oncologia da USP. O que é preciso saber para lidar com o câncer de mama?
Inicialmente, um número essencial. No Brasil, há 600 mil novos casos de câncer por ano – e 100 mil são de pele, os mais comuns e tratados de maneira mais simples. Mas, depois desses, o mais frequente é o de mama: por ano, nada menos que 65 mil mulheres brasileiras recebem o diagnóstico em diversos estágios da doença. O Dr. Hoff aproveita para lembrar que o câncer de mama, ao contrário do que parece, não é exclusivamente feminino. Cerca de 1% deles ocorrem em homens com histórico familiar de câncer. Mas, evidentemente, o Outubro Rosa é voltado às mulheres. A data funciona, no sentido prático, em termos de prevenção para o câncer de mama? Diz o Dr. Hoff: “Sim, essas datas são importantes para gerar conscientização no sentido de levar as pessoas a adotar medidas de prevenção e de diagnóstico precoce – o que faz toda a diferença. Nesse caso, o foco maior é em outubro, mas deve ser estendido para o ano inteiro”.
Afinal, o que a mulher deve saber para se armar da melhor maneira contra esse vilão tão assustador? Segundo o diretor do ICESP, o principal é que estratégias de prevenção e diagnóstico precoce devem ser orientadas pelo médico. “O autoexame como ferramenta única não é adequada. Esqueçam tabus e vergonhas, a mulher tem que procurar ajuda precoce para checar e acompanhar suas mamas”. E as que tiverem casos de câncer em família precisam iniciar o programa de prevenção mais cedo, às vezes saindo da adolescência – devem conversar com seu médico para determinar a idade ideal. Mas, segundo o oncologista, para quem não tem herança familiar, esse marco inicial do controle situa-se entre 40 e 50 anos – idade da primeira mamografia.
Cada vez mais cedo
Uma informação básica que a campanha do Outubro Rosa deve ressaltar é que, se num passado recente a idade-alvo do câncer de mama se situava na época pós-menopausa, após os 50 anos, tem-se se visto o adiantamento do diagnóstico do câncer para mulheres mais jovens – o que recomenda a antecipação das medidas preventivas. Os oncologistas têm diagnosticado mulheres na casa dos 30 anos. Ainda não são muitos casos nessa faixa, mas essa tendência à precocidade justifica o conselho do Dr. Hoff: “Conversem com seu médico aos 40 anos e não deixe passar dos 50”. Quais seriam os sinais de alerta autodetectáveis? “Alterações visíveis na mama, como nódulos, sangramento pelo mamilo e aparência de inflamação justificam uma consulta médica”. O processo de autopalpação, que deve ser orientado pelo médico, pode ser o passo inicial para a detecção de um tumor, não como substituição do controle profissional. Mas, é claro, a mulher deve conhecer suas mamas – muitos tumores são diagnosticados assim.
Pegando no começo
Tudo em função da descoberta do câncer no primeiro estágio possível. “Nosso esforço pelo diagnóstico precoce se justifica: um tumor no estágio 1 tem mais de 90% de chance de cura”. Mas alguns tumores podem crescem rápido, por sua própria biologia, com complexidade maior de tratamento. E, claro, a detecção mais precoce pode beneficiar a mulher com tratamentos menos radicais. Sempre que possível, os oncologistas procuram preservar a mama afetada, extirpando apenas o quadrante do seio onde se localiza o tumor. Frequentemente, porém, a mastectomia é recomendada – eventualmente, dependendo do caso, com reconstrução imediata, uma grande terapia complementar em termos de autoestima da mulher. E, nesse caso, o Dr. Hoff ressalta que o Brasil detém uma expertise de cirurgia estético-reparadora extremamente eficiente.
Novas medicações
Metade dos casos precisa de tratamentos complementares – entre eles, a temível quimioterapia, que, em alguns casos, pode e deve ser ministrada antes da cirurgia, para reduzir seu impacto. E já há drogas com bloqueadores hormonais, cujos efeitos colaterais são menores – e com recuperação relativamente mais curta. Tratamentos alvo-moleculares do tumor têm alterado a história natural do câncer de mama – inclusive personalizando-se cada caso, de acordo com suas características genéticas. Em termos de terapêuticas hoje disponíveis, o Dr. Paulo Hoff vê avanços fundamentais em seus 26 anos de dedicação à oncologia. Basicamente, a doença em seus estágios mais avançados saiu de uma condenação de sentença de morte para ser vista como doença crônica, mesmo se não houver cura num horizonte mais distante.
Como lidar, da melhor maneira
Para o Dr. Paulo Hoff, há um quadro de recomendações prioritárias das quais o Outubro Rosa deve ser portador, como mensagem às brasileiras
Conheça seu histórico familiar – a ancestralidade da doença leva a um maior risco
Ao tomar banho, conheça seu corpo
Aos 40, se não tiver herança familiar para a doença, comece a conversar com seu ginecologista sobre o câncer de mama
Não deixe passar dos 50 anos
Lembre sempre: detectado precocemente, o câncer de mama tem cura.
Segundo pesquisas importantes, atividade física regular reduz a inflamação e o risco de câncer. Acredita-se que 200 a 300 minutos por semana de caminhadas e atividades aeróbicas produzam esse efeito
Não perca a entrevista na íntegra do Dr. Paulo Hoff
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