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Dia Nacional da Homeopatia: Quando o mínimo é mais

Por Celso Arnaldo Araujo

Neste 21 de novembro, a Homeopatia brasileira é celebrada com um Dia Nacional. Nesse dia, em 1840, o francês Benoit Mure – discípulo do criador da Homeopatia, o alemão Samuel Hahnemann – chegava ao Rio trazendo as bases dessa especialidade médica, polêmica até hoje. Aqui, o pediatra Moises Chencinski, um dos expoentes da medicina homeopática no país, explica os fundamentos dessa medicina personalizada – tintim por tintim, glóbulo por glóbulo.

 

O que há para comemorar no Dia Nacional da Homeopatia? Em que estágio está a Homeopatia no Brasil?

Podia ser muito melhor. A grande restrição da Homeopatia é que ainda não se consegue incluir, no mesmo estudo clínico, a Homeopatia e a Alopatia. Enquanto esta trata a doença, a Homeopatia trata a pessoa. Duas pessoas com gastrite podem vir a este consultório e sair com receitas diferentes. Ou uma com gastrite e outra com enxaqueca – e saírem as duas com o mesmo remédio. Eu não vou avaliar a gastrite – mas a sua gastrite, que faz parte de você como um todo. Por isso, avalio seu todo. Na prática, não trato a gastrite, mas você.

Mas já na primeira consulta é possível fazer essa avaliação do universo do cliente?

Depende. Se é uma criança, ela vai sendo acompanhada no período da consulta. Mas quanto mais longa for sua história, mais influência você sofreu do meio ambiente, de outras doenças, de situações cotidianas ou extremas da vida e seus efeitos emocionais.

Se eu chego à sua frente com uma queixa de prisão de ventre, por exemplo, o que você vai querer saber de mim?

Independentemente da doença, a consulta homeopática começa da mesma forma que na alopatia: o que o traz aqui? Aí eu vou querer saber a história desse seu quadro patológico, da mesma forma que numa consulta tradicional. Mas na segunda parte da consulta, vou querer saber coisas de sua vida que podem ser interpretadas como sinais e sintomas deflagradores de sua doença. O que a faz piorar? Quando esse quadro começou, o que estava acontecendo na sua vida? Nessas respostas, posso identificar alguma forma específica de sua reatividade ao mundo exterior – que me confirma ou não a escolha de um medicamento, se eu estiver em dúvida. Por isso a consulta é demorada.

Vocês não são às vezes confundidos com um psicólogo ou psiquiatra?
Sim, porque abordamos não só questões clínicas específicas mas o seu todo.

A alma, o corpo e a mente?

E, além desses, uma quarta coisa – que se chama força vital. A Homeopatia é baseada numa teoria vitalista: a força vital é uma energia que você não vê e não sente, mas te mantém em equilíbrio. Imagine um boneco João Bobo – você empurra, ele faz menção de cair, mas volta à posição original. Uma agressão do meio ambiente faz você balançar, mas sem cair. O que o mantém equilibrado é essa força vital. Uma vez que aconteça uma ação, uma emoção ou algo que afete essa força, você não consegue se reequilibrar. Cai e fica. Aí é que age o medicamento homeopático: ele o reequilibra à força vital. Uma vez que a força vital esteja reestruturada, a Homeopatia continua tratando você. Em suma: não trato você, mas seu equilíbrio.

A Homeopatia, a exemplo da Alopatia, tem princípios ativos, moléculas químicas?

A Homeopatia é embasada em princípios ativos de energia – que partem de qualquer substância dos reinos vegetal, animal e mineral, embasados numa forma específica de preparo do medicamento, a energização, ou dinamização. Além de diluído ele é sucussionado (energizado) – ou agitado, batido. Pega-se uma parte do remédio, dilui-se em 99 partes de álcool e se “bate”, ou sucussiona, 100 vezes. Este é o 1 CH, a chamada Centesimal Hahnemanniana. Então pega-se uma parte dessa solução e dilui-se em mais 99 partes de álcool, bate-se mais 100 vezes e este é o 2 CH. Assim vai, até chegar ao CH que queremos receitar. A isso chamamos potência do remédio.

Mas essa energia é comprovada na prática?

Você vê um imã atraindo um alfinete – e não questiona que exista uma força magnética, uma energia, que você não visualiza mas consegue mensurar: por que eu consigo atrair esse alfinete a 10 centímetros e não consigo a 15? O que falta é um mensurômetro da ação dos remédios homeopáticos como substância. Como sei que ele funciona? Você chega aqui com determinado quadro de saúde e eu tenho uma técnica que me faz escolher um medicamento que vai recuperar você. Se não recuperar, quer dizer que ele falhou? Até a página 9. Posso ter um remédio adequado, mas alguns obstáculos à cura produzem condições que me impedem de resolver o problema.

Todo esse processo, aparentemente muito complicado e trabalhoso, é feito nos laboratórios das farmácias homeopáticas?

Sim, as  farmácias utilizam como base as chamadas Tinturas-Mãe das substâncias. Imagine que vou fazer um remédio denominado Calcarea carbonica ostrearum, raspado da concha da ostra. Nenhuma farmácia homeopática tem ostras em seu laboratório para obter essa substância. Mas tem a calcarea carbonica numa certa dinamização – geralmente fornecida por laboratórios internacionais.

Quantas dessas substâncias integram a farmacopeia homeopática?
Cerca de 2.500 a 3.000 substâncias. Se eu prescrevo uma Calcarea 6 CH, ou seja, com seis dinamizações, ela é diferente de uma Calcarea com 12 CH – mas é o mesmo remédio. A base é a mesma.

Com sua experiência de tantos anos na Homeopatia, você já tem na cabeça uma “farmácia” que lhe permite prescrever o medicamento que mais se adequa ao quadro do paciente sem recorrer a pesquisa?

Isso a gente acaba conseguindo. Quando o médico se forma, se especializa em Homeopatia e começa a clinicar, ainda utiliza dois livros básicos para consulta de medicamentos: um é o “Matéria Médica Homeopática”, que mostra, remédio por remédio, as características mentais, gerais, locais e as relações e as complementações que se pode fazer com cada medicamento. E o “Repertório Homeopático”, que relaciona todos os sintomas possíveis de todas as doenças – dor de cabeça, por exemplo, em suas várias apresentações: a que só dá de manhã, a que pulsa no frio, a dor ao acordar, a que piora depois das refeições, se o cliente é tímido ou extrovertido, tem medos constantes, etc. Quanto mais o médico “modalizar” essa dor, mais fácil chegar ao remédio específico.

Os homeopatas admitem, é claro, que a Homeopatia não funciona em todos os casos, todas as doenças…
Lógico que não. Mas deixa eu mudar isso: nós podemos tratar um paciente com câncer, mas nunca iremos tratar um paciente do câncer. Essa é a diferença. Quando mexo com Homeopatia, mexo com energia. É a energia do remédio que entra em contato com a sua. Se eu estou tratando um paciente que vive hoje uma meningite bacteriana, eu preciso ministrar um antibiótico. Não há a menor condição de eu tratar sua meningite bacteriana só com Homeopatia. Seria imprudente e irresponsável porque, na prática, não posso contar com sua energia para combatê-la. Mas eu posso tratar melhor um processo broncopneumônico viral com Homeopatia. Ok, isso pode se curar sozinho? Sim, mas pode matar também. Mas vamos falar de coisas mais simples: Homeopatia trata obesidade? Não. Mas por que você é obeso? Porque fica ansioso e come muito? Então eu vou ajudar seu tratamento com medicamentos que melhoram essa compulsão alimentar. E sem reeducação alimentar e atividade física você não vai emagrecer.

Em crianças, sua especialidade, há quadros psicológicos dessa natureza que podem ser tratados com Homeopatia?
Sim, terror noturno, alterações de sono e humor, depressão – nada daquela falsa ideia de que a Homeopatia, por ser uma terapia natural, só trata de doenças leves e simples que afinal se curam sozinhas. É possível, por exemplo, encerrar uma crise de bronquite com Homeopatia. Mas um tratamento com Homeopatia não exclui a concomitância de outro tipo de abordagem terapêutica – sobretudo as vacinas. A Associação Médica Homeopática Brasileira recomenda explicitamente todas as vacinas do calendário oficial.

Alguns pacientes se comportam diante de um médico homeopata como se estivesse num consultório de Psicologia ou Psiquiatria?
Sim, eu às vezes escuto, numa primeira consulta, revelações íntimas que eles não fariam ao psiquiatra. Muito menos a um médico alopata. Qual é a diferença? A alopatia para na resposta à pergunta “o que o traz aqui?”. A Homeopatia começa por aí. E vou buscar as raízes de sua queixa, da ponta do dedo a uma situação mais ampla. Mas para um homeopata, é muito melhor uma resposta do tipo “não sei” a outra, mais complexa, só para me agradar.

O Brasil tem cerca de 90 mil farmácias alopáticas. De que modo a Homeopatia entra nesse cenário?

Dificilmente você vai encontrar uma farmácia exclusivamente homeopática.

E farmácias alopáticas com um “cantinho homeopático”?
Acho ótimo. Mas é preciso haver receita, em primeiro lugar. E que remédios homeopáticos você encontra numa farmácia alopática? Medicamentos indicados para sintomas específicos – mas sem apuração. Isso tende a crescer? Sim? A ausência de resultados tende a crescer? Sim. E eu temo, que nesse caso, o que fique no ar é “a Homoepatia não funciona”.

Quais são as bases de um tratamento homeopático bem sucedido?
Depende do médico e do paciente. Depende de eu saber retirar de você as informações adequadas, de o paciente fornecer as informações adequadas, de eu analisar e processar essas informações e escolher o medicamento adequado àquele conjunto de situações, e de você tomar adequadamente o medicamento indicado. A principal consulta da Homeopatia é a primeira – e a próxima, quando eu vou saber se esse processo deu certo.

   Médico pediatra – Moises Chencinski

 

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