Estão subindo as estatísticas de doenças mais comuns na terceira idade. A depressão é uma delas. E essa derruba qualquer um. Como resistir a ela?
A depressão é uma das doenças mentais que mais atinge os idosos. O modo como ela se manifesta pode variar de acordo com a situação vivida pelo idoso. “Para aqueles que vivem com a família e estão inseridos na comunidade, a prevalência de sintomas depressivos gira em torno de 15% da população idosa. Esse número pode dobrar quando nos deparamos com idosos institucionalizados, que estão em casas de repouso ou asilos. Em pacientes hospitalizados por problemas de saúde, a prevalência chega a quase 50%”, explica o Dr. Fabio Armentano, coordenador da equipe de psicogeriatria do AME Psiquiatria Dra. Jandira Masur. No primeiro caso, o componente hereditário é menor, a doença fica muito mais relacionada a dificuldades trazidas pelo envelhecimento em si – tais como problemas cognitivos e quadros demenciais, perda de papel social e limitações trazidas por doenças físicas. Já o segundo grupo envolve pacientes cujo histórico nos remete a quadros depressivos prévios, tratados ou não, e que podem apresentar características de cronificação.
Clinicamente, uma das principais diferenças entre a depressão que atinge a população idosa frente à que acomete os mais jovens são as queixas somáticas, muito mais intensas e frequentes nos mais velhos. “Frequentemente os sintomas depressivos nessa população traduzem-se por queixas de dores pelo corpo, falta de apetite e insônia, perda de energia para realizar as tarefas do dia-dia, tendência ao isolamento e apatia. Em um primeiro momento, muitas vezes não há a exteriorização de sintomas depressivos mais clássicos – como tristeza, angústia, crises de choro. Em geral, o quadro de depressão no idoso é menos exuberante”, destaca Armentano.
Como isso afeta a vida do paciente?
A depressão não tem uma causa específica, podendo ser desencadeada por uma mistura de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Além de fatores ambientais, inerentes ao envelhecimento, a depressão em idosos pode se manifestar a partir de uma série de problemas relacionados à terceira idade, como o afastamento da família, a perda do papel social com a aposentadoria, falecimento do cônjuge e solidão. Limitações físicas e fatores clínicos como AVC, infarto e outras doenças cardiovasculares também podem contribuir para o desenvolvimento de um quadro de depressão.
A presença da família e o tratamento
A principal dica do psiquiatra Fabio Armentano é nunca considerar uma alteração no comportamento do idoso como sendo algo normal do envelhecimento. “Se está mais quieto e isolado, comendo menos, mais apático, menos ativo, tudo isso precisa ser levado em consideração. Mas muitas pessoas aubda considerarem o aparecimento de sintomas depressivos, alterações cognitivas e declínio funcional como sendo próprios do processo natural de envelhecimento e que, portanto, não requerem atenção e tratamento. Isso atrasa a busca por ajuda especializada e prejudica intensamente o tratamento. O envelhecimento normal é o envelhecimento saudável, e a família pode e deve oferecer ajuda ao perceber mudanças”, explica ele.
O tratamento une a combinação de medicamentos antidepressivos, outras medicações acessórias, se for preciso, e a abordagem de outros aspectos da vida, como a psicoterapia, a retomada de atividades que contribuam para um papel social na comunidade, a retomada do convívio social, exercícios físicos e o bom cuidado da saúde. Mas o médico destaca: “O envelhecimento saudável não acontece aos 60 anos de idade, acontece aos 30, 40. É fruto do que e de como vivemos nossas vidas e cuidamos da nossa saúde. Se nos tornaremos idosos cheios de doenças, frágeis física e emocionalmente ou se vamos envelhecer de forma saudável e ativa, dependerá muito de como cuidamos do corpo, da mente e do ambiente onde estamos inseridos. Colhemos aos 60 aquilo que plantamos ao longo da nossa juventude”, conclui o especialista.
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