CBFarma debate comércio de medicamentos em mercados eletrônicos
11 jul, 2022Os 10 medicamentos mais vendidos nas farmácias brasileiras
12 jul, 2022
Hospitais também registram escassez de soro fisiológico, usado em pacientes internados – mostra levantamento do Conselho Regional de Farmácia/RS. Amoxicilina, o remédio mais em falta no Rio Grande do Sul, é uma das primeiras opções escolhidas por médicos para tratar infecções bacterianas comuns, como faringite, sinusite, otite em crianças e pneumonia leve.
Antibióticos, antialérgicos, analgésicos, anti-inflamatórios e xaropes para tosse – remédios para Covid-19 e doenças de inverno – são os medicamentos mais em falta em drogarias, hospitais e farmácias do SUS do Rio Grande do Sul. A pesquisa, feita de forma online ao longo de três semanas com farmacêuticos que atuam na iniciativa privada e no setor público, questionou se faltavam remédios nas farmácias onde os profissionais atuam – se sim, quais as medicações.
O desabastecimento é maior em drogas usadas contra Covid-19 e doenças respiratórias do inverno, mas profissionais ainda relataram falta de soro fisiológico, utilizado como “veículo” para aplicação de remédios em pacientes hospitalizados.
A entidade destaca a falta de antibióticos para crianças, situação que persiste há meses e foi vivenciada pela empresária Betina Maier, moradora de Novo Hamburgo. Em maio, ela levou a filha Morena, de nove meses, ao hospital, onde a menina foi diagnosticada com bronquiolite, pneumonia e infecção urinária. O médico comunicou: a criança só teria alta se a mãe comprasse, na farmácia, um antibiótico para seguir o tratamento em casa – o remédio, entretanto, estava em falta também nas farmácias.
Ela só conseguiu um frasco na cidade de Sapiranga . Diz a empresária:
— Ainda hoje faltam remédios para crianças. Duas semanas atrás, minha filha teve outro problema respiratório, a pediatra disse para entrar com nebulização e Aerolin em gotas, mas só achamos em Campo Bom.
A rede pública também sofre de escassez. A Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre relata dificuldade para comprar os antibióticos amoxicilina e gentamicina, o remédio fenoterol (utilizado para bronquite, pneumonia e asma) e estrógenos. “Apesar dessas carências, todos os esforços estão sendo feitos para que não gerem o desabastecimento nos medicamentos disponíveis à população”, diz a prefeitura.
O Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), que representa fabricantes de remédios, afirma que associados relataram “expressivo e atípico aumento de demanda por determinados antibióticos no primeiro trimestre e isso desorganizou a cadeia de fornecimento ao varejo”. Todavia, a entidade alega que a oferta é regular na maioria das fabricantes e que apenas algumas empresas relataram problemas “pontuais” de produção de antibióticos. Segundo a entidade, indústrias estão readequando a produção para atender o mercado.
Hospitais registram falta de soro fisiológico
O Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa), que representa instituições como os Hospitais Mãe de Deus e Moinhos de Vento, informou por meio de nota que há cerca de 30 itens “com abastecimento prejudicado, incluindo medicamentos e insumos para realização de procedimentos”.
A maior falta em hospitais é mesmo de soro fisiológico e contrastes para exames. “A indisponibilidade tem sido verificada de forma mais abrangente no varejo. Os hospitais vêm monitorando diariamente os estoques para bem atender aos pacientes”, informa a entidade que representa hospitais da capital gaúcha.
A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre informou, também por meio de nota, que tem “acompanhado com apreensão a escassez de medicamentos no mercado brasileiro”. Para minimizar o problema, “a instituição tem fortalecido as parcerias comerciais com fornecedores e, em alguns casos pontuais, elevado os estoques de segurança”.
Farmácias de manipulação têm sido acionadas em alguns casos. Em outros, recore-se ao médico para substituir o remédio. “Porém, apesar da atual escassez, não temos sido impactados significativamente com rupturas de abastecimento que prejudiquem a assistência de nossos pacientes”, diz a Santa Casa.
O Hospital Mãe de Deus informou, também por nota, que está a par de que o mercado enfrenta dificuldades, mas que “tem todos os medicamentos garantidos em estoque, em razão de contrato estabelecido com os fabricantes”.
Motivo
As raízes do problema são multifatoriais: envolvem menor oferta de remédios e de embalagens, como resultado de um xadrez geopolítico europeu-asiático, e maior demanda impulsionada pelo inverno rigoroso e pela queda do uso de máscaras em ambientes fechados, o que favorece a transmissão de vírus respiratórios, dizem especialistas.
O Brasil depende de importação de matéria-prima para fabricar remédios – mais de 90% dos ingredientes vêm da China e da Índia. Como os lockdowns impostos pelo governo chinês na política de “covid zero” pararam cidades de grandes indústrias farmacêuticas, caiu a oferta de matéria-prima global e também de embalagens de vidro e plástico para envasar remédios e soro fisiológico.
— Em 2022, com colégios em funcionamento, retomada de vida quase normal de adultos e o querido inverno gaúcho, a demanda por esses remédios aumenta. Mas, agora, há a infeliz coincidência de o mercado chinês se fechar, o que faz o desabastecimento chegar ao ápice — diz Cabral Pavei, professor de Farmácia na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Ainda no cenário internacional, a guerra entre Rússia e Ucrância també afeta a cadeia logística mundial de portos e aeroportos, acrescenta Diego Gnatta, professor de Farmácia na UFRGSU.
— A guerra afeta o trânsito de navios e contêineres, o que impacta não só a indústria de automóveis, mas também a indústria farmacêutica. Os insumos não necessariamente são produzidos na Ucrânia ou na Rússia, mas isso afeta a logística — diz o pesquisador.
Uma saída para o problema é investir na produção nacional de medicamentos em laboratórios públicos e universidades, afirmam pesquisadores.
Fonte: