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Antibióticos e antialérgicos: os remédios que mais faltam nas farmácias gaúchas

Hospitais também registram escassez de soro fisiológico, usado em pacientes internados – mostra levantamento do Conselho Regional de Farmácia/RS. Amoxicilina, o remédio mais em falta no Rio Grande do Sul, é uma das primeiras opções escolhidas por médicos para tratar infecções bacterianas comuns, como faringite, sinusite, otite em crianças e pneumonia leve.
Antibióticos, antialérgicos, analgésicos, anti-inflamatórios e xaropes para tosse – remédios para Covid-19 e doenças de inverno – são os medicamentos mais em falta em drogarias, hospitais e farmácias do SUS do Rio Grande do Sul. A pesquisa, feita de forma online ao longo de três semanas com farmacêuticos que atuam na iniciativa privada e no setor público, questionou se faltavam remédios nas farmácias onde os profissionais atuam – se sim, quais as medicações.
O desabastecimento é maior em drogas usadas contra Covid-19 e doenças respiratórias do inverno, mas profissionais ainda relataram falta de soro fisiológico, utilizado como “veículo” para aplicação de remédios em pacientes hospitalizados.
A entidade destaca a falta de antibióticos para crianças, situação que persiste há meses e foi vivenciada pela empresária Betina Maier, moradora de Novo Hamburgo. Em maio, ela levou a filha Morena, de nove meses, ao hospital, onde a menina foi diagnosticada com bronquiolite, pneumonia e infecção urinária. O médico comunicou: a criança só teria alta se a mãe comprasse, na farmácia, um antibiótico para seguir o tratamento em casa – o remédio, entretanto, estava em falta também nas farmácias.
Ela só conseguiu um frasco na cidade de Sapiranga . Diz a empresária:
— Ainda hoje faltam remédios para crianças. Duas semanas atrás, minha filha teve outro problema respiratório, a pediatra disse para entrar com nebulização e Aerolin em gotas, mas só achamos em Campo Bom.
A rede pública também sofre de escassez. A Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre relata dificuldade para comprar os antibióticos amoxicilina e gentamicina, o remédio fenoterol (utilizado para bronquite, pneumonia e asma) e estrógenos. “Apesar dessas carências, todos os esforços estão sendo feitos para que não gerem o desabastecimento nos medicamentos disponíveis à população”, diz a prefeitura.
O Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), que representa fabricantes de remédios, afirma que associados relataram “expressivo e atípico aumento de demanda por determinados antibióticos no primeiro trimestre e isso desorganizou a cadeia de fornecimento ao varejo”. Todavia, a entidade alega que a oferta é regular na maioria das fabricantes e que apenas algumas empresas relataram problemas “pontuais” de produção de antibióticos. Segundo a entidade, indústrias estão readequando a produção para atender o mercado.
Hospitais registram falta de soro fisiológico
O Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa), que representa instituições como os Hospitais Mãe de Deus e Moinhos de Vento, informou por meio de nota que há cerca de 30 itens “com abastecimento prejudicado, incluindo medicamentos e insumos para realização de procedimentos”.
A maior falta em hospitais é mesmo de soro fisiológico e contrastes para exames. “A indisponibilidade tem sido verificada de forma mais abrangente no varejo. Os hospitais vêm monitorando diariamente os estoques para bem atender aos pacientes”, informa a entidade que representa hospitais da capital gaúcha.
A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre informou, também por meio de nota, que tem “acompanhado com apreensão a escassez de medicamentos no mercado brasileiro”. Para minimizar o problema, “a instituição tem fortalecido as parcerias comerciais com fornecedores e, em alguns casos pontuais, elevado os estoques de segurança”.
Farmácias de manipulação têm sido acionadas em alguns casos. Em outros, recore-se ao médico para substituir o remédio. “Porém, apesar da atual escassez, não temos sido impactados significativamente com rupturas de abastecimento que prejudiquem a assistência de nossos pacientes”, diz a Santa Casa.
O Hospital Mãe de Deus informou, também por nota, que está a par de que o mercado enfrenta dificuldades, mas que “tem todos os medicamentos garantidos em estoque, em razão de contrato estabelecido com os fabricantes”.
Motivo
As raízes do problema são multifatoriais: envolvem menor oferta de remédios e de embalagens, como resultado de um xadrez geopolítico europeu-asiático, e maior demanda impulsionada pelo inverno rigoroso e pela queda do uso de máscaras em ambientes fechados, o que favorece a transmissão de vírus respiratórios, dizem especialistas.
O Brasil depende de importação de matéria-prima para fabricar remédios – mais de 90% dos ingredientes vêm da China e da Índia. Como os lockdowns impostos pelo governo chinês na política de “covid zero” pararam cidades de grandes indústrias farmacêuticas, caiu a oferta de matéria-prima global e também de embalagens de vidro e plástico para envasar remédios e soro fisiológico.
— Em 2022, com colégios em funcionamento, retomada de vida quase normal de adultos e o querido inverno gaúcho, a demanda por esses remédios aumenta. Mas, agora, há a infeliz coincidência de o mercado chinês se fechar, o que faz o desabastecimento chegar ao ápice — diz Cabral Pavei, professor de Farmácia na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Ainda no cenário internacional, a guerra entre Rússia e Ucrância també afeta a cadeia logística mundial de portos e aeroportos, acrescenta Diego Gnatta, professor de Farmácia na UFRGSU.
— A guerra afeta o trânsito de navios e contêineres, o que impacta não só a indústria de automóveis, mas também a indústria farmacêutica. Os insumos não necessariamente são produzidos na Ucrânia ou na Rússia, mas isso afeta a logística — diz o pesquisador.
Uma saída para o problema é investir na produção nacional de medicamentos em laboratórios públicos e universidades, afirmam pesquisadores.

Fonte:

 

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