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“A maior dificuldade é entender como vou viver nos próximos cinco anos”

A jornada da professora Erica Ferreira, diagnosticada erroneamente várias vezes até se deparar com a leucemia mieloide aguda (LMA) e transformar isso em uma causa para a vida

No auge da sua carreira profissional, vice-diretora de uma escola pública e coordenando um projeto de cultura na Zona Sul da capital paulista, Erica Ferreira desabou durante um dia no trabalho. Durante os quatro meses anteriores, o cansaço que ela sentia atingia seu limite. Junto com isso vinham episódios de febre, dores musculares, de garganta e de cabeça e uma série de sintomas que foram interpretados pelos médicos como: dengue, inflamação nos dentes do siso, sinusite e até virose.

“Eu achava que era só excesso de trabalho”, explica Erica. Não era. A geógrafa passou de novembro de 2018 a março de 2019 por várias especialidades médicas. A cada passagem, um novo diagnóstico e um novo remédio ineficaz. Chegou a tomar uma injeção de penicilina e ser enviada para repouso por uma suspeita de dengue.

“As dores no corpo não passavam e fui a um ortopedista. Ele ouviu minha história e me encaminhou para o Hospital do Servidor Público. Dessa vez o atendimento já estava diferente de tudo e a médica, após os primeiros exames, me disse: você pode ter qualquer coisa, menos dengue. Deixe de lado o que passou, precisamos correr com você”, conta Erica, que no mesmo dia em que fez essa consulta foi internada e começou seu tratamento para leucemia mieloide aguda (LMA).

De modo geral, a LMA é uma doença abrupta e incomum. “O paciente está bem e de repente apresenta febre, fraqueza e sangramentos. Ele procura uma UBS, um pronto atendimento, e nem sempre esses centros estão aptos a diagnosticar a doença. Em um mundo ideal, assim que os primeiros sintomas apareçam, o tratamento deve começar em 24 horas, mas isso é muito raro”, explica a médica Maria de Lourdes Chauffaille, especialista em hematologia.

A LMA é um tipo de câncer que pode acontecer em qualquer idade, sendo que as pessoas com mais de 65 anos são as que mais recebem o diagnóstico. Não é hereditária, mas ainda não se sabe o porquê de seu surgimento. Sua principal característica é a superprodução de células imaturas (que acabaram de nascer), também conhecidas por blastos (tipos de glóbulos brancos, responsáveis por combater as infecções).[1]

Essas células passam a se desenvolver de forma descontrolada e param de desempenhar sua função – a de proteger o organismo contra as bactérias e vírus. Em grande quantidade na medula óssea, bloqueiam a formação dos demais componentes do sangue (glóbulos vermelhos, responsáveis pela oxigenação do corpo, e plaquetas, que impedem as hemorragias). Por isso, sangramentos persistentes podem ser um sintoma comum. O tratamento da LMA é indicado pelo oncologista ou hematologista e pode ser realizado através de quimioterapia com vários medicamentos e transplante de medula óssea.

Início do tratamento
Essa não seria a primeira das lutas na vida de Erica. Aos seis anos de idade, a paulistana que cresceu em Taboão da Serra, município da Zona Sudoeste da Região Metropolitana de São Paulo, sentiu pela primeira vez a covardia do racismo. Negra de um sorriso que faz os outros sorrirem, quando lembra disso seu semblante fica fechado, mas a força natural que ela tem para enfrentar problemas na vida brilha no olhar.

“Senti o gosto do que era ser negra quando um menino da minha sala de aula tirou sarro do meu cabelo. A professora o obrigou a me dar um beijo no rosto e me pedir desculpas. Isso ficou muito marcado, acabei me tornando professora”, conta.

Erica ainda enfrentaria vários outros desafios na vida, mas em nenhum deles lhe faltou coragem. Nem quando resolveu ir para África estudar a cultura de sua ancestralidade ou quando essa formação não lhe serviu para abrir portas, nem quando ficou sem trabalho e sem qualquer perspectiva.

“Não se fala sobre câncer. Parece ser uma doença de gente rica. Só hoje, depois de passar pelo que passei, que descobri dois casos na família. Receber a notícia de que eu tinha um problema no sangue foi péssimo, de repente eu estava internada sem saber o que tinha. Eu consegui ler de longe na minha ficha que estava com a enfermeira que eu tinha leucemia. Ela tentou disfarçar, mas eu li”.

Ela não tinha nenhum conhecimento sobre a doença e na alma a incredulidade de ter sido levada ao hospital por suspeita de uma virose e, por fim, sendo internada com diagnóstico de câncer. “Minha pesquisa inicial na internet só trazia resultados de óbitos. Comecei a me perguntar se eu iria morrer. Demorou para aceitar. Eu não tinha ideia do que era leucemia, na minha cabeça eu teria uma alta dez dias depois. Minha ficha só caiu quando comecei a fazer a primeira sessão de quimioterapia”.

Nessa primeira internação, Erica ficou por 23 dias no hospital. O tratamento causava vômitos, dores de cabeça, incontinência urinária, o que a fez perder 20Kg e ter vergonha de contar para os outros que tinha LMA. “É curioso, mas depois que aceitei a doença, percebi que minha família e meus amigos foram essenciais para o meu tratamento. Nunca me deixaram sozinha, em nenhum momento”, conta.

“O pessimismo que eu sentia ao descobrir que eu tinha câncer era pura falta de conhecimento sobre a doença. Não que as expectativas de cura sejam altas, mas existia a possibilidade, então, depois da primeira internação coloquei na cabeça que ia me curar”. Foram seis meses de baterias intensas de quimioterapia e fé, segundo Erica.

Remissão
“O tratamento da leucemia faz com que você tenha disciplina, a gente não pode omitir informações para nós mesmos. É uma doença grave e qualquer dor de cabeça ou sangramento merece atenção redobrada. Mas a coisa mais importante é não se questionar sobre ‘por que isso aconteceu comigo? ’, porque você alimenta a doença dessa forma”.

Seja pela disciplina, pelo tratamento ou pela fé, a LMA de Erica entrou em remissão no início de novembro de 2019 – sete meses depois de ser diagnosticada. Isso não é uma cura definitiva, ou seja, nesse período a doença pode aparecer novamente, o que exigiria um tratamento mais agressivo ou o transplante de medula. “Meu maior medo é que ela volte. É um processo que vai acabar, mas não sei se eu teria a mesma força outra vez. Minha maior dificuldade é entender como vou viver nos próximos cinco anos”, conta.

A vida dela hoje tem regras alimentares rígidas e acompanhamento terapêutico psicológico e médico. Sua rotina e das pessoas que a cercam estão completamente alteradas e a leucemia mieloide aguda passou a ser uma causa ativista na vida dessa professora. “Me sinto em uma causa agora. Quero que as pessoas saibam mais sobre a LMA, que ao menor sinal de algum sintoma, peçam exames de sangue. Quanto mais cedo o diagnóstico acontecer, maiores as chances de remissão e cura. Quero passar algo positivo, mas quero ajudar a população negra que tenha diagnóstico de câncer. Usar a expertise que tenho na educação e criar projetos nas escolas que possam difundir esse conhecimento”, finaliza.

Sintomas da leucemia mieloide aguda

· Perda de peso
· Fadiga
· Febre
· Sudorese noturna
· Perda de apetite
· Fraqueza
· Sensação de frio
· Tonturas ou vertigens
· Dor de cabeça
· Falta de ar
· Hematomas e sangramentos
· Hemorragias nasais frequentes
· Sangramento nas gengivas
· Menstruação intensa
· Dor de cabeça
· Fala ininteligível
· Confusão
· Sonolência

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