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A arte e a ciência por trás dos nomes dos medicamentos

por National Geographic Brasil

Quando você pega uma receita de Viagra, Lunesta, Advair ou Paxlovid, você pode se perguntar como esses remédios recebem seus estranhos nomes de marca. Os executivos farmacêuticos se sentam em torno de uma mesa de conferência e os rabiscam até que cheguem a um nome único que se adapte ao medicamento que desenvolveram? A realidade não é tão simples.

Na verdade, antes de mais nada as marcas de medicamentos incorporam salvaguardas que minimizam os erros de medicação causados pela confusão de nomes, que são muito bem pensados em um processo altamente interativo.

Embora a nomeação de um medicamento possa parecer caprichosa, “é um processo muito organizado”, esclarece Suzanne Martinez, estrategista da Intouch, de Chicago, uma agência de marketing farmacêutico.

Há uma demanda constante por novos nomes de drogas. Existem 30 mil medicamentos no mercado nos EUA e o FDA (a Anvisa norte-americana) aprova 50 novos nomes de marcas todos os anos a cada ano, torna-se mais desafiador obter a aprovação de novas marcas.

O jogo do nome

Em linhas gerais, o processo de nomeação de medicamentos inclui uma fase criativa, envolvendo uma agência ou empresa especializada em estratégia de marca e marketing para desenvolver nomes potenciais; uma fase de avaliação envolvendo profissionais dos departamentos comercial, regulatório e jurídico da farmacêutica; e procedimentos regulatórios envolvendo revisões legais e aprovação pelo FDA. No lado criativo, estrategistas de marca e outras pessoas criativas tentam criar nomes que sejam atraentes e ressoem bem para o consumidor, tanto na mensagem quanto no tom. Isso envolve desafios linguísticos, legais e escritos. Ao mesmo tempo, eles querem evitar quaisquer prefixos ou sufixos que possam ter conotações negativas, depreciativas ou ofensivas. Isso pode ser complicado porque o negócio farmacêutico atravessa fronteiras e, na maioria das vezes, as empresas farmacêuticas estão procurando um nome que possa funcionar globalmente. Afinal, um nome ou sílaba que possa fazer sentido nos EUA pode não ser aceito no mercado europeu. Por exemplo, mist tem conotações positivas em inglês, mas significa estrume em alemão. São raízes a serem evitadas permanentemente.

Para desenvolver um nome que satisfaça todas as partes – incluindo os tomadores de decisão da empresa farmacêutica e os órgãos reguladores em vários países – a equipe estratégica e criativa da agência passa meses discutindo centenas de nomes possíveis para um medicamento. Em seguida, essa lista é gradualmente reduzida e apresentada aos tomadores de decisão da empresa farmacêutica e, finalmente, à FDA. Todo o processo normalmente leva de dois a três anos, embora tenha sido mais rápido para os medicamentos contra a Covid-19.

Ao desenvolver nomes, às vezes os estrategistas tentam incorporar uma referência à biologia por trás da droga. Por exemplo, o medicamento contra o câncer Xalkori é um inibidor de ALK – abreviação, em inglês, para quinase de linfoma anaplásico –, enquanto Zelboraf, usado para tratar melanoma, é uma molécula que inibe o gene Braf. Parecem nomes estranhos, mas podem indicar aos médicos seus mecanismos de ação.

Toque emocional

Às vezes, as empresas querem que o nome desperte uma emoção ou seja mais aspiracional – como foi o caso da Advair (usado para o tratamento de asma), que sugere uma vantagem quando se trata de ar e respiração. Já o Viagra, a primeira pílula eficiente contra a disfunção erétil, teve o nome escolhido porque expressa vigor e vitalidade que um homem procurava experimentar e alcançar na superação da disfunção erétil. Mas há uma linha tênue nesse processo porque o nome não pode fazer uma afirmação exagerada, ser promocional ou aumentar a eficácia da droga – sugerindo uma cura, por exemplo.

Como parte do processo de nomenclatura de medicamentos, as empresas farmacêuticas geralmente desejam destacar o que é único em um determinado remédio. Todo medicamento que chega ao mercado tem um aspecto de inovação – muitas vezes é inédito na doença que trata ou usa um mecanismo de ação totalmente novo.

A nomeação do Latisse, um tratamento de prescrição para ajudar as pessoas com cílios finos, ou muito poucos, a crescer mais, tem a ver com o ‘La’, que alude à palavra lash (cílio, em inglês) – enquanto o tisse evoca o pintor impressionista francês Henri Matisse. Como resultado, o Latisse quase tem um efeito de estilo associado à arte. Ao criar o nome Lunesta, medicamento para insônia, a equipe quis incluir a palavra lune, para evocar sensações de influências lunares e de restauração e sono, ele explica.

Por outro lado, os nomes de medicamentos genéricos são baseados em sílabas específicas – chamadas radicais – que são unidas para transmitir informações sobre a estrutura química ou ação de um medicamento. Por exemplo, o bebtelovimab é um medicamento de anticorpo monoclonal recém-aprovado que pode ser usado para tratar a Covid-19; como outros anticorpos monoclonais, o nome termina em -mab. Nos EUA, eles são atribuídos pelo Conselho de Nomes Adotados dos Estados Unidos como pré-requisito para a comercialização de um medicamento. “A haste no final do medicamento indica a classe dele”, explica Martinez. É como uma minifórmula científica em um nome.

Poder dos nomes

Assim como as marcas Kleenex e Xerox se tornaram sinônimos de seus produtos, um fenômeno semelhante às vezes acontece com as drogas. Com o tempo, alguns nomes de marcas de medicamentos – como Viagra, Xanax, Botox e Lipitor – tornaram-se líderes em suas categorias, palavras familiares e vinculadas ao propósito pretendido. As pessoas os usam com mais frequência em seu vernáculo cotidiano do que a maioria das outras drogas. Às vezes, os nomes das marcas ficam na mente do público, às vezes não. Tome as vacinas para Covid-19 como exemplo: a maioria das pessoas sabe se recebeu a vacina da Pfizer ou da Moderna e se conseguiu solicitar vacinas ou reforços dos mesmos fabricantes. No entanto, a maioria das pessoas não pede a vacina Pfizer por sua marca, Comirnaty, ou a vacina Moderna por seu nome comercial, Spikevax, depois que esses medicamentos obtiveram aprovação total do FDA.

 

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