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8 de março – Dia Internacional da Mulher

Por Celso Arnaldo Araujo

Elas comandam a farmácia

 As mulheres já têm o destaque que fizeram por merecer na maior parte dos campos de trabalho, inclusive na presidência de muitas indústrias farmacêuticas. E no varejo farmacêutico isso também começa a ser particularmente notável. Com sua sensibilidade e sua capacidade de lidar com pessoas que necessitam de cuidados especializados, elas já dominam o cenário de muitas farmácias brasileiras, seja como farmacêuticas, seja como atendentes de balcão – oferecendo aos clientes sua bela formação e sua capacidade de acolhimento. A Abcfarma conversou com diretoras executivas de grandes redes de farmácias, que nos prescreveram suas receitas para o sucesso.  

 

 

Nanci Nakano – CEO da Promofarma
A essência de lidar com o público

Nanci resume a jornada familiar de sucesso da Promofarma – hoje com 75 lojas e 1300 colaboradores, na região da Grande São Paulo, predominantemente na Zona Norte da cidade. Ela conta que seus pais, Silvio e Iracema Nakano, começaram sua trajetória no mundo da farmácia com uma loja no bairro de Lauzane Paulista, em 1964. “Quando eu e minha irmã Elisa viemos trabalhar efetivamente no negócio da família, em 1987, eles já estavam com três lojas. Digo efetivamente pois já nascemos atrás de um balcão de farmácia – sempre convivemos no ambiente de loja, seja limpando a loja ou trabalhando no caixa. Informatizamos, profissionalizamos a empresa e criamos o nome Promofarma. O resultado de todo esse trabalho é que, nos últimos cinco anos, triplicamos o faturamento da empresa, fechando 2022 com 415 milhões de reais”. Hoje, o comando da empresa já está na terceira geração: “Temos muito orgulho de ser uma empresa familiar profissionalizada. Hoje a expansão está sob responsabilidade do meu sobrinho, Renato Fukace, mas sempre faço a aprovação final”. Como ela explica a expansão contínua do varejo farmacêutico no Brasil, hoje com 90 mil lojas em 95% dos municípios brasileiros e…crescendo?

“O varejo farmacêutico é muito forte! Primeiro porque trabalhamos com gênero de primeira necessidade; segundo porque nosso mercado cresce junto com o envelhecimento da população. Nossa meta de crescimento é de 20% ao ano nos próximos cinco anos”.

As farmácias da Promofarma se consideram especialistas no público de classe C e D. “Temos um carinho enorme por esse público, falando de igual para igual e valorizando suas necessidades e demandas”. Hoje, 62% dos 1.300 colaboradores da empresa são mulheres – a começar pela diretora executiva: “Tenho a sorte de ter sido criada por minha mãe, uma mulher visionária, mesmo tendo nascido em 1934, que sempre nos ensinou a sermos independentes financeiramente. Tivemos um modelo de maternidade em que a mãe trabalhava. Isso me deu muita tranquilidade na hora de ter filhos, pois sei que o exemplo educa mais que palavras”.

Mulher combina muito bem com farmácia, não?
“Sim, as mulheres têm mais facilidade de lidar com o público e esse cuidar faz parte da nossa essência. Aliás, a Promofarma preza muito a diversidade, não só de gênero, mas racial, cultural e social”. E na farmácia como empresa? Os homens aceitam sem reservas a liderança de uma mulher? Diz Nanci:

“Ainda existe preconceito, porque ainda não é comum vermos muitas mulheres em cargos de diretoria nos diversos segmentos da Economia. Por isso, precisamos agir com calma quando não temos espaço de fala em alguns grupos masculinos”.

Ok, e o que falta para o empoderamento total da mulher no varejo e no mercado de trabalho em geral?
“Essa pergunta vale 1 milhão! É fácil apontarmos o governo como responsável por mudar o mind set das meninas através da educação, mas esse seria apenas un dos pilares – outro pilar seria divulgarmos mais modelos femininos de sucesso para que outras mulheres se inspirem. Gostaria de ver mais mulheres em áreas como tecnologia e em cargos de diretoria, pois a diversidade traz um ganho muito grande e essas áreas ainda têm predominância masculina. Precisamos entrar nesses feudos através da nossa competência e garra”.

 


Débora Bondança – CEO da Poupe Mais
Casamento com a farmácia

A farmacêutica Débora Dana Dieguez Bondança, 50, é natural de Guarulhos, na Grande São Paulo e vem de uma família bastante humilde: “Sou a filha número 5 de um total de 7 filhos”. Casada com o também empresário e farmacêutico Paulo César Toscano Bondança, é mãe orgulhosa de três lindos filhos, Demétrius, Diogo e Danielle. Débora iniciou sua vida profissional em 1987, já no ramo. “Aos 15 anos, necessitando trabalhar, fui até uma rede de drogarias na Praça da Sé e me candidatei a uma vaga em serviços gerais. Ali tive a oportunidade de conhecer todos os setores de uma farmácia e meus superiores observaram minha disposição em aprender coisas novas. Sempre que havia algum novo serviço, pediam para que eu fizesse. Assim fui me desenvolvendo profissionalmente e amando o setor. Passei por todos os estágios de uma farmácia, do embrulho, depois perfumista, balconista, farmacêutica, a empreendedora do ramo”. É uma trajetória semelhante à de muitas mulheres, hoje executivas de sucesso – mas com um detalhe marcante: seu sócio hoje é o próprio marido.
“Em 2010 iniciei junto com Paulo a rede de Drogarias Poupe Mais, que hoje conta com oito unidades nas cidades de São Paulo, Guarulhos e Atibaia. Decidimos iniciar nossa própria rede de farmácias, somente nós dois como sócios, pelo fato de sermos farmacêuticos e sempre trabalharmos nesse setor, amarmos o que fazemos e não conseguirmos nem pensar em nos arriscar em outra coisa”. Na função de diretora e proprietária, Débora teve de abrir mão da tarefa que ela mais amava dentro de uma farmácia: “Sempre fui uma apaixonada pelo atendimento ao público, mas hoje já não posso realizar esse trabalho com tanta frequência, devido à atenção que a empresa exige, mas sempre que posso estou nas lojas. Contamos hoje com uma equipe dedicada e talentosa de cerca de 90 colaboradores. Nossa missão é cuidar da saúde e da beleza dos nossos clientes, colaboradores e parceiros, através da prestação de serviços farmacêuticos com responsabilidade e excelência, promovendo mais saúde e mais economia”. Mais beleza também: o setor de dermocosméticos é um dos pontos fortes das lojas Poupe Mais – o que exige especialização da equipe. Com uma porcentagem de 60% de mulheres na equipe de 95 colaboradores, o papel da farmácia – e da mulher – como posto avançado do sistema de saúde faz toda a diferença. “A mulher é mais detalhista e observadora, costuma dar uma maior atenção ao cliente e às suas queixas – com isso, consegue auxiliar o cliente sobre suas dificuldades. E lhe trazer soluções”.

E como farmacêutica? A abordagem feminina é mais bem aceita pelo cliente?

Diz Débora: “Minha experiência mostra que a abordagem feminina é, sim, mais bem aceito: há uma confiança maior do cliente quando o atendimento é feminino. Lógico que há uma ou outra exceção, mas, no geral, os clientes, principalmente da terceira idade, têm mais liberdade e mais confiança em relatarem seus sofrimentos a uma atendente feminina. E acabam aceitando com mais facilidade a solução oferecida”.

 E o que ainda falta para o “empoderamento” total da mulher no varejo e no mercado de trabalho em geral?
“A mulher tem conquistado totalmente seu espaço no varejo e em todos os setores da Economia. Isso tem acontecido por sua determinação e constante busca de capacitação e conhecimento na área em que está atuando. Acredito que a mulher é capaz de conquistar o que ela quiser – afinal, capacidade elas já mostraram que tem e qualquer questionamento contrário não terá apoio”.

Uma pergunta que não poderia faltar a uma profissional de farmácia que galgou todas as etapas dentro de uma farmácia, desde a adolescência até ser empreendedora. E como mãe? Como você conciliou até hoje essas duas nobres funções?

“Acredito que consegui conciliar ambas as funções porque amo as duas. Decidi não abrir mão de nenhuma, buscando sempre a melhor forma de conciliar ambas. Hoje meus filhos já estão adultos e me sinto orgulhosa de ter feito um bom trabalho na educação e na formação deles. Ter uma rede de apoio formada por familiares e amigos fez toda a diferença e também pude contar sempre com o apoio do meu marido. Juntos formamos uma equipe em casa também”.

 

Neuza Rodrigues – CEO da Farmalíder
Medicina e farmácia, unidas pela saúde

Com uma carreira consolidada na Pediatria, a médica Neuza Rodrigues veio brilhar, atrás do balcão, como diretora executiva de uma super-rede do varejo farmacêutico do estado do Pará. Hoje com 26 farmácias instaladas nos centros comerciais do Grupo Líder, formados por supermercados, magazines, ópticas e petshops, a marca nasceu por iniciativa de seu pai Oscar, do seu avô Jerônimo e de seus tios Osmar, João, José e Celso. No ano 2000, ao regressar de viagem aos Estados Unidos, seu irmão Oscar trouxe a ideia de montar uma farmácia dentro do supermercado, tal como as famosas drugstores americanas. E assim nasceu a Farmalíder. Desde então, a rede só cresce, com esse consagrado modelo comercial, na capital Belém e em outras cidades do estado. Caberia a Neuza incorporar a saúde aos negócios da família. Primeiro, pela medicina.

“Eu sempre quis ser médica, desde criança. Fui a primeira médica da família, e fascinada pela Pediatria”. Mas o empreendedorismo também corria em suas veias. Já médica de renome, construiu um hospital e montou um plano de saúde para os colaboradores da Líder – então um grande grupo. Depois, vieram as farmácias, nesse mesmo modelo de infraestrutura comercial. As 26 lojas da Líder se localizam dentro de supermercados. A Dra. Neuza justifica essa estratégia: “A correria e a chuva  sistemática em Belém atrapalham o dia a dia das pessoas. Se elas puderem resolver seus problemas num único local, melhor”. A localização das lojas Farmalíder em centros comerciais não é novidade nos demais estados brasileiros – mas sua característica institucional, é. “Sempre digo o seguinte: vendemos remédios. Pode parecer óbvio mas, no nosso caso, não é. Sim, vendemos remédios – o resto, o supermercado vende. O médico tem certeza de que a receita que ele prescrever vai ser respeitada. Não vai faltar”.

Acesso à saúde

Sim, a chamada ruptura é um caso raro nas farmácias da família. A loja do grupo que mais fatura proporcionalmente à sua área tem apenas 15 metros quadrados e funciona 24 horas. O cliente não precisa procurar o que quer  dentro da lojinha – é atendido à frente, no balcão de entrada, e recebe o remédio prescrito, com a devida orientação de uso. Esse é o começo da nova proposta das farmácias Líder: um centro de saúde. E aí se destaca a figura da Dra. Neuza Rodrigues. Como médica, ela consegue aliar predicados das duas especialidades. “Os farmacêuticos obrigatórios foram uma conquista do varejo farma. Eles hoje são a intersecção entre os médicos prescritores e as farmácias. Com sua capacidade de organizar as receitas, as informações que eles passam ao cliente raramente são transmitidas pelos médicos. E a maioria das pessoas não têm acesso a médicos”.

O toque feminino nas farmácias
A formação de Neuza na área da saúde foi a mola propulsora para a instalação de serviços farmacêuticos na rede Líder – entre os quais, vacinas e exames laboratoriais. Hoje, dos 400 colaboradores, cerca de 70% dos que lidam com o público são mulheres. “Acolhimento é a palavra chave”, resume ela. “A mulher é colo, mãe, cuidadora. Quando se tem isso no balcão de uma farmácia, faz toda a diferença para o cliente. Não que o homem não cuide. Mas o espírito do colo faz a diferença”. As 26 farmácias do grupo estão instaladas em cada bairro de Belém. E Neuza faz questão de ir frequentemente a todas elas. “O nosso olhar vê o que ninguém viu”. E quais são as principais características dessas farmácias? Preço e atendimento – mais do que isso, ter o produto na ponta. Segundo Neuza, o “gol” só acontece com essa dobradinha.

Os prazeres da vida
Neuza tem três filhos – dois já casados. Como foi possível coadunar a vida profissional altamente especializada com a tripla jornada de mãe? “O que mais gosto é trabalhar. É um prazer. Mas a família também é, evidentemente, outro grande prazer. Trabalho e vida pessoal juntam que só…”. E o que falta para as mulheres terem destaque máximo no varejo farma? “A mulher ainda precisa ser mais valorizada. Justamente a facilidade de desempenhar funções nobres simultaneamente faz a mulher se destacar em qualquer especialidade. O protagonismo feminino pode transformar o Brasil”.

 

Sandra Takata, presidente do Instituto Mulheres do Varejo, embaixadora do Sinal Vermelho Contra Violência Doméstica e diretora da Core Group Marketing e Comunicação
As carreiras e as barreiras das mulheres no varejo

A palavra chave do Instituto das Mulheres do Varejo é empoderamento feminino? Diz a jornalista Sandra Takata, presidente do IMDV: “Nosso propósito é transformar o ambiente do ecossistema do varejo num local em que nós mulheres possamos ter nossas escolhas”. Mas ela admite que isso ainda não é plenamente possível. “Hoje não podemos engravidar no momento em que queremos. Ficamos com receio de não sermos bem aceitas no ambiente corporativo. Ora, mulheres engravidam. No varejo, temos um outro grande problema: há poucas gerentes regionais. Muitas mulheres não se candidatam ao cargo, pois eventualmente teriam de mudar de cidade. Em nossa sociedade, é comum as mulheres deixarem o emprego e acompanharem os maridos, mas não o contrário. Mesmo a esposa ganhando três vezes mais, se ela é promovida para gerência regional, muitas vezes se cria um impasse familiar. Ou seja: ainda temos muito o que discutir e mudar. Hoje a palavra-chave talvez não seja somente empoderamento. As mulheres se capacitaram muito nos últimos anos e muitos grupos de mulheres surgiram. O que precisamos é promover líderes humanistas e fazer com que homens não se sintam pisando em ovos, mas tenham a humildade de reaprender. Não há bandidos e nem mocinhos. Todos nós estamos aprendendo”.

Em cinco anos, o IMVD tem a números a destacar?

“Começamos despretensiosamente como um grupo de Whatsapp para discutir problemas de nós, mulheres, e assim poder fortalecer uma rede de apoio. Temos hoje 300 executivas no grupo, que atuam voluntariamente por esse propósito. Queremos deixar um legado para as próximas gerações, mas as mudanças precisam ser realizadas agora. Há um ano nos tornamos Instituto. Já produzimos cinco grandes eventos nesse período, rodamos seis pesquisas, levamos 34 mulheres para palestras em eventos como APAS, Asserj, Acats e este mês teremos um painel durante a Abradilan Conexão Farma”.

 Como presidente, você tem uma meta, uma pauta, para seu mandato?

Temos que cuidar das carreiras e das barreiras que impedem as mulheres de exercerem cargos de liderança na sociedade e capacitar cada vez mais líderes humanistas para que o ambiente corporativo não seja hostil – tanto para homens como para mulheres.

Especificamente em relação ao varejo farma, que radiografia do mercado brasileiro você pode fazer?

Vejo o varejo farma como um dos mais adiantados no quesito diversidade, apesar de ainda ser muito masculino em toda a cadeia – ainda podemos contar nos dedos as CEOs mulheres do varejo farma.

Não lhe parece que as mulheres têm hoje mais visibilidade na indústria farmacêutica do que no comércio?

O movimento sempre é liderado pela indústria, que tem estruturas bem maiores e departamentos específicos para cuidar de diversidade e inclusão. O varejo precisa abrir a porta todos os dias e sabemos que não é fácil. A operação começa ea ntrar no automático. E a indústria começa a se movimentar e ditar regras que acabam transformando também o varejo – tanto que temos sido muito procuradas pela indústria, que quer que o varejo também evolua.

A Abcfarma deseja a todas um feliz Dia Internacional da Mulher 

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