Por: Celso Arnaldo Araujo
O papel das farmácias no controle da doença responsável por 300 mil internações por ano no SUS
A chegada do inverno coincide com a data alusiva à asma, criada com o objetivo de divulgar informações sobre a doença e prevenir o agravamento dos sintomas e as crises – um simples resfriado em pessoas asmáticas geralmente as precede. A incidência é maior em crianças e adolescentes, atingindo 10% da faixa etária pediátrica – e diminui na idade adulta, chegando a 6% a 7% da população. E tem controle, na maioria dos casos, quando se segue uma disciplina terapêutica e preventiva. E aí entram as farmácias – e seus profissionais, cujo trabalho no campo da assistência farmacêutica foi valorizado após a entrada em vigor, em 2023, da RDC 786
Raio-x da asma
A asma é uma doença de base genética que acomete as vias respiratórias, principalmente os brônquios, tubos que levam o ar para dentro dos pulmões, deixando-os inchados, com muco ou secreção. Em consequência, impede a entrega do oxigênio necessário durante as crises asmáticas – dificultando a passagem do ar e a respiração e antecedendo um período de grande sofrimento.
Por quê?
As crises respiratórias da asma podem ser multifatoriais, fruto dos chamados gatilhos – fatores de risco que aumentam as chances de crise e variam de pessoa para pessoa. Os mais comuns, segundo a Sociedade Brasiliense de Doenças Torácicas (SBDT):
- Contato com poeira, produtos químicos, fumaça de cigarro, cheiros fortes, ácaros, alguns animais (principalmente gatos e cavalos), infecções respiratórias fruto de temperatura fria – daí a maior incidência durante o inverno e a escolha da data de 21 de junho para marcar o Dia Nacional de Combate à Asma.
O momento da crise
- Mais comumente, dor e chiado no peito, tosse e sensação de cansaço.
- Apesar de ser um quadro controlável quando há tratamento adequado, dados da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) mostram que nove em cada 10 pacientes com asma não têm a doença sob controle. Isso se repercute com uma hospitalização a cada quatro minutos no Brasil.
- Mesmo quando sabem que são asmáticos e têm acesso aos medicamentos, muitos pacientes acabam abandonando os remédios depois que a crise passa. Também aí as farmácias podem preencher uma lacuna, estimulando o consumo regular e preventivo dos medicamentos indicados, para reduzir as consequências da asma – doença crônica após o diagnóstico.
Asma na farmácia
Pessoas que sofrem há anos com sua asma estão entre os clientes mais frequentes das farmácias – porque devem ser consumidores habituais de uma série de medicamentos preventivos de crises asmáticas prescritos pelos médicos. Entre estes, estão os dispositivos inalatórios, contendo corticoides anti-inflamatórios. Embora necessariamente prescritos pelos médicos, podem ser “administrados” pelos farmacêuticos preparados para essa missão. Está demonstrado que as orientações conduzidas por farmacêuticos refletem positivamente no controle da doença e reduzem problemas relacionados ao uso irregular de medicamentos. Esse é o resultado concreto da assistência farmacêutica aos asmáticos.
Recomendações do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo que devem ser repassadas a pessoas com diagnóstico de asma
*Consulte o farmacêutico antes de utilizar suas bombinhas – o uso correto é fundamental para o êxito do tratamento.
*Pergunte ao farmacêutico a melhor forma de guardar seus medicamentos em casa.
*Não jogue as bombinhas em lixo comum. Leve-as até a farmácia mais próxima de sua casa para o descarte adequado.
*Qualquer problema relacionado ao uso de medicamentos deve ser informado ao médico e, eventualmente, ao farmacêutico.
*Nunca pare de utilizar as bombinhas por conta própria antes de conversar com seu médico,
Protocolo farmacêutico
Como destaca em entrevista à Abcfarma a Dra. Danyelle Marini, diretora-tesoureira do CRF-SP, numa doença com 20 milhões de pacientes, que é a quarta causa de hospitalização pelo SUS, com mortalidade aumentando, o uso incorreto dos broncodilatadores é um agravante digno de nota e de intervenção por parte das farmácias. Um papel preventivo cabe às farmácias, na rotina da assistência farmacêutica. Pacientes asmáticos podem e devem ser identificados e abordados para receberem a melhor orientação sobre a melhor forma de utilizar os medicamentos. E, para isso, como ressalta a diretora do CRF-SP, esses profissionais da porta de entrada do sistema de saúde precisam ser bem treinados no melhor protocolo de controle da asma. Por ser uma doença inflamatória, o medicamento mais recomendado são os corticoides inalatórios, sempre sob prescrição. A automedicação deve ser combatida sempre – aos profissionais de farmácia cabe, apenas, a melhor orientação para o melhor tratamento. Dentro de regras específicas e rigorosas, consagradas pela GINA, ou Global Initiative for Asthma, uma organização internacional para controle da asma. Essas normas devem ser seguidas e repassadas aos clientes por profissionais de saúde que lidam com a doença.
Estágios de 1 a 5
A GINA classifica a asma em cinco estágios. Informa a Dra. Danyelle: “Nos estágios 1 e 2, de asma leve, não há tratamento fixo – só sob demanda, com o paciente em crise. E as chamadas bombinhas, sempre preferencialmente de corticoides, devem ser associadas aos chamados broncodilatadores de longa duração. No Brasil, usam-se eventualmente, nesses estágios iniciais da asma, os dilatadores de curta duração, que podem causar problemas cardíacos. A GINA estabelece que esses dilatadores devem ser utilizados no limite de três bombinhas por ano. Acima disso, há risco de hospitalização. E acima de 10, risco de morte. O grande problema é que esse broncodilatador causa alívio imediato, mas não tem controle. Aí a relevância do papel do farmacêutico – que deve acompanhar esse paciente que frequenta sua farmácia, para se certificar de que os medicamentos ali adquiridos são adequados. A RDC 786 da Anvisa estimula a prática de “inquéritos” de saúde, análises clínicas e testes de diagnóstico nas farmácias. E o protocolo da GINA é muito claro para cada estágio da doença. Se o paciente for controlado com corticoides e broncodilatadores de longa duração, ele não terá crises”, explica a Dra. Danyelle.
Segundo a diretora do CRF-SP, os instrumentos de controle do GINA disponíveis aos profissionais de saúde permitem checar a adesão do paciente ao melhor tratamento de controle da asma. Pacientes que desconhecem em que estágio da asma se encontram devem ser encaminhados a seu médico, para um ajuste na terapia medicamentosa que previna crises asmáticas e o agravamento da doença.
E quais são os limites do papel do farmacêutico no controle da asma?
A Dra. Danyelle Marini volta a ressaltar o papel fundamental do cuidado farmacêutico ao asmático. “Asma exige a educação do paciente para evitar gatilhos causadores de crises e utilizar os medicamentos adequados, a fim de ter a doença controlada. O risco de crise é risco de internação”.
Cinco mandamentos da asma, segundo o CRF-SP
*Por ser uma doença crônica, a asma não tem cura, mas tem tratamento.
*É possível controlar a inflamação dos pulmões com bombinhas de corticoide inalatório, que devem ser usadas conforme a prescrição médica.
*Quando um paciente com asma está sem sintomas, significa que a inflamação no pulmão está controlada, mas não curada. *Mesmo que um paciente asmático esteja sem sintomas, é importante continuar com o tratamento para evitar uma crise grave.
*Além do uso de medicamentos, é importante evitar ou diminuir o contato com os agentes que pioram a asma ou causem alergia.
Para a implementação dos serviços, dispomos de materiais como boletins e notas técnicas, elaborados pelo nosso departamento regulatório a disposição no link: https://portal.abcfarma.org.br/associados/regulatorio
Fontes: SBDT – Sociedade Brasileira de Doenças Torácicas – Dra. Danyelle Cristine Marini, diretora do Conselho Regional de Medicina de São Paulo